sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estudo Bíblico e Teológico:
A BÍBLIA COMO O LIVRO DO PACTO DE DEUS.
Prof. João Ricardo Ferreira de França.
jrcalvino9@gmail.com
fones: 3475-7544 / 8684-6461.
Introdução: O estudo da Bíblia exige de nós conhecimento. Um conhecimento do que este livro significa para a Igreja; e, sem este conhecimento não poderemos progredir em nosso entendimento de quem é Deus, nem muito menos compreender os seus atos de salvação neste mundo, por isso, este breve estudo vem a tona para nos ajudar a compreender a Palavra de Deus. pois, há uma necessidade de se compreender a bíblia. Gostaria de focalizar o nosso estudo sob a ótica de que o livro que temos diante de nós é um livro pactual. Onde Deus se revela a nós de forma pura e límpida.
A bíblia é a fonte de toda a nossa teologia e seria imprudente estudarmos qualquer doutrina sem considerarmos a fonte desta doutrina, ou seja, seria insensato não considerarmos a Bíblia como ela de fato é: A revelação de Deus.

I – PONTOS DE VISTAS SOBRE A BÍBLIA.

Ao longo da história da Igreja tem surgido vários pontos de vista a respeito do que seja a Bíblia, e sobre a maneira como ela deve ser lida e interpretada, vejamos estas visões resumidamente:

1.1 – A VISÃO FUNDAMENTALISTA: Esta visão é muito boa, pois, olha para a Bíblia como sendo de fato a Palavra de Deus, todavia, faz uma distinção gritante entre o Antigo e o Novo Testamento, dividindo o povo de Deus; sugerindo que Deus tem dois povos – Israel e a Igreja.
1.2 - VISÃO CRÍTICO-LIBERAL: Esta visão anula toda a idéia que a Bíblia seja a Palavra de Deus, sugerindo que a Bíblia é um livro com muitos mitos, negando os milagres do Antigo Testamento e do Novo Testamentos; resta visão deve ser rejeitada, pois, não se apoia na revelação escrita de Deus.
1.3 – A VISÃO NEO-ORTODOXA OU NEO-EVANGÉLICA: Sustenta que a Bíblia está misturada de verdade e de erros, e que nem tudo que está escrito na Bíblia é verdadeiro, esta é a visão de que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas que se torna a Palavra de Deus quando é pregada e crida pelo ouvinte. Esta visão também deve ser rejeitada, pois, toda meia-verdade é uma mentira completa.
1.4 – A VISÃO HISTÓRICA-REFORMADA: É a visão de que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus toda suficiente para nos conduzir na fé e na conduta Cristã. É esta a convicção que nós abraçamos como Igreja. Podemos dizer que esta é a correta visão que devemos ter da Bíblia. Isso significa que sustentamos que na Bíblia não existe nenhum mito, nenhum erro ou mesmo que ela é incompleta , mas que a Bíblia é um livro verdadeiro em tudo o que afirma. A visão Reformada ou Calvinista pode ser resumida conforme está abaixo:
a. A Bíblia é o registro da revelação das relações pactuais de Deus.
b. A Bíblia apresenta uma só mesagem: unificada, integrada que há de desenvolver-se.
c. A Bíblia como livro pactual nos mostra isso de forma clara.
d. A Bíblia como tal possui qualidades específicas.

II – A NATUREZA PACTUAL DA BÍLIA.
2.1 – O Registro Escrito:
Muitos não compreendem a Bíblia porque não percebem que a Palavra de Deus foi escrita por homens que viveram em culturas e épocas diferentes das nossas. Entretanto, o que os escritores registraram não nasceu da intenção deles, mas foi a mão de Deus quem os conduziu a escrever o que escreveram.
O registro escrito possui vários gêneros literários. Isso inclui “narrativas”, “pronunciamentos proféticos”, “admoestações em forma de sermão”, “diálogos”, “hinos”, “orações”, veja alguns exemplos:

Ex.15.1,22 – “Então cantou Moisés e os filhos de Israel em cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque graciosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. [...]Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur; e andaram três dias no deserto, e não acharam água.”[1]
Lucas 3.23 – “E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) Filho de José e José de Heli,”[2]

2.2 – Revelação:

A Bíblia é a revelação de Deus ao homem. Mas o que significa a palavra revelação? A resposta é simples, o conceito de revelação “sugere tirar o véu, abrir, tornar acessível o que, de outra forma, permaneceria desconhecido”.
Isso nos leva para a consideração de que Deus é a fonte final e o doador da revelação. A base fundamental está no fato de que a palavra divina é a revelação desse grandioso Deus; e, o conceito refere-se, primeiro, às palavras enunciadas por Deus. Ele falou ao longo de toda a Criação; notemos a frase dominante no capítulo 1 de Gênesis: “e Deus disse”
Mas, algo precisa ser dito aqui que “Deus falou também palavras que pertencem à redenção. Esta perspectiva nos leva para Êxodo capítulo 20. 1-17; o que temos aqui? “Então falou Deus....” ele falou todas a palavras. Mas, o que ele especificamente falou? “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do egito da casa da servidão”. A Lei nos mostra a redenção em seu prefácio.
Todavia, estas palavras faladas foram transmitidas em linguagem humana inteligível, isto é, em palavras humanas, arranjadas em sentenças e parágrafos.
Neste registro humano temos também a resposta humana. Deus sempre provoca a resposta do homem quando busca manifestar sua justiça, um exemplo claro disso é o Salmo 51; o Saltério (Livro dos Salmos) é compreendido como sendo a resposta humana à revelação de Deus. Deus provoca o homem com sua Santidade para Ter uma resposta de arrependimento um exemplo é Isaías 6.8-13.]

2.3 – As Relações Pactuais:

Qual é o tema central da Bíblia? Alguns estudiosos dizem que é a promessa, outros dizem que é o Reino, mas nós pensamos que o tema central é o Pacto de Deus. A Bíblia é o livro permanente das relações pactuais. O pacto assume conceito central na Palavra de Deus. O que é um pacto? Pacto é uma aliança. Deus entrou em Aliança com o homem desde o éden.
Esta perspectiva assume vital importância em nosso estudo. Pois, temos aqui
2.3.1 – A Bíblia Retrata o pacto em harmonia com o Reino de Deus.

A aliança nos diz que Deus é “o rei por virtude de quem e o que Ele é como Deus; porque ele criou, sustenta e governa, controla e dirige todas as coisas na criação;...” em outras palavras, a aliança fala de Deus como sendo o “Senhor da redenção” e que deve ser contemplado como o “consumador e o Juiz final e absoluto de toda a humanidade”. Essas declarações nos indicam que a Bíblia é um livro que trata do Reino de Deus entre os homens. Esta é a primeira verdade sobre as relações pactuais apresentadas na Bíblia.

2.3.2 – A Bíblia apresenta o Pacto em sua natureza intrínseca.

O que é está em aliança com Deus? A Bíblia nos ensina que é “estar ligado a ele por um laço de vida e amor.” Este laço é divinamente “iniciado e mantido”, este ponto precisa ser considerado quando lemos no Salmo 89. 30-35:
“ Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos, 31 se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos, 32 então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniqüidade. 33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade. 34 Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram. 35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):”

2.3.3 – A Bíblia apresenta-nos que este laço foi iniciado na Criação.

Deus traz o mundo à existência porque tenciona manifestar a sua glória neste mundo. Ao criar o homem Deus decide esculpir no homem a sua imagem (Gênesis 1.26) conforme registra Moisés:“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.”
Ao criar o homem nestes termos Deus estabeleceu “um laço de vida e amor entre ele próprio e a humanidade”. Este é o pacto da Criação. Agora quando Adão e Eva pecaram, tornaram-se quebradores do pacto(Gênesis 2.15-17); eles “romperam o laço de vida e amor de seu lado” (Gênesis 3.6) “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.”
Mas, qual é a ação de Deus? “Deus ,entretanto, manteve suas relações de vida e amor e, afim de restaurar plenamente a humanidade no pacto da criação, então, surge uma nova dimensão do pacto. Ele torna possível a redenção da humanidade em Gênesis 3.15.( pacto da redenção)

III – A MENSAGEM ÚNIFICADA, INTEGRADA E DESENVOLVIDA DA BÍBLIA.

A Bíblia é o registro da vontade de Deus ao homem. Ela trata de duas grandes relações pactuais (criação e redenção), a história da salvação está condida nesta perspectiva pactual da Bíblia. Agora precisamos estudar a respeito desta mensagem. A grande questão é: quantas mensagem possui a Bíblia? E a divisão Antigo e Novo Testamento é legítima? O conflito entre Lei e Graça é verdadeiro? São perguntas que precisam ser respondidas. Devemos considerar algumas realidades:

A. A mensagem da Bíblia é Unificada:

Temos a plena convicção de que o tema de toda a Bíblia é o “Reino de Deus e o Pacto”. Este é o tema controlador de nossa compreensão da Bíblia como Palavra de Deus.

B. A mensagem da Bíblia é Integrada:

Esta mensagem possui diversos elementos que a constitui. Isto porque o Deus Trino decidiu salvar, redimir, resgatar e restaurar uma humanidade perdida. Note estamos falando da Bíblia como o livro do pacto que registra toda a revelação pactual de Deus.

C. A mensagem da Bíblia é Desenvolvida:

Este é o aspcto mais importante para a compreensão dos ensinos na Palavra de Deus. O que queremos dizer com isso?

C.1 – Que a revelação deste pacto é orgânica: A Bíblia que temos em nossa mão não foi dada de uma única vez, Deus falou várias vezes e de várias formas, conforme aprendemos de Hebreus 1.1: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,”. A revelação de Deus esteve presente como sementes em diversos lugares até nascer uma grande árvores chamada Bíblia Sagrada.

C.2 – A revelação foi Progressivamente revelada: A palavra de Deus foi dada de forma a chegar ao seu climax, assim como uma árvore nasce da sementes e vai crescendo e se desenvolvendo assim foi a questão da Bíblia.

C.3 – A revelação é histórica: A mensagem redentora de Deus na Bíblia vem pelos agentes e circunstâncias históricas. Assim ocorreu nos tempos dos profetas do Antigo e do Novo Testamentos.

IV – CARACTERÍSTICAS DA BÍBLIA:

1. Ela é Singular: Ela é um livro divino-humano, sua mensagem é de origem divina; a Bíblia é também humana, pois, foi escrita por homens (2 Pedro 1.20-21).

2. Ela é um livro do pacto: Ela revela a soberania de Deus, mostrando o amor indomável de Deus pelo povo da aliança.
3. A Bíblia foi escrita dentro da comunidade do pacto: Israel deveria manifestas as virtudes da Lei para toda a humanidade. Pois, foi assim que Deus planejou quando chamou Abraão ( Gênesis 12.1-3)
4. A Bíblia é um livro transcultural: A revelação de Deus na Bíblia não se condiciona a cultura de uma determinada época. Por isso, deve ser recebida como Palavra de Deus.

[1] Este texto começa com uma narrativa e vai para a poesia, depois, volta para a narrativa ;e por fim uma poesia.
[2] note que o texto começa com uma narrativa e termina com uma genealogia.
ENTENDENDO O CREDO APOSTÓLICO.
com
João Ricardo Ferreira de França.[1]
jrcalvino9@gmail.com /jrcalvino9@hotmail.com
jrcalvino9@yahoo.com.br

Boa noite a todos, nós estamos mais uma vez aqui para estudarmos este tão precioso credo, e estamos agora abordando o segundo aspecto doutrinário do credo, ou seja, estamos lidando com: Deus, Filho e a nossa redenção. O nosso último encontro foi salutar, pois, aprendemos sobre a primazia de Cristo no credo. E hoje vamos trabalhar um aspecto que julgo de capital importância para cada um de nós que estamos aqui nesta noite, vejo que muitos tomam nota do que falo, isso é bom, todavia, gostaria que cada um pensasse comigo sobre o que vamos estudar apartir deste momento.
Iremos de fato avaliar o terceiro artigo do credo. Que diz: “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria...” Quando leio estas palavras fico pensando sobre que tema daria a esta aula de hoje? Seria o ato magno do Espírito Santo? Seria um bom tema para explorarmos nesta aula, todavia, isso seria cometer uma incongruência tamanha, pois, aqui se enuncia o aspeto teológico de Deus, o Filho; então, penso que o tema, não menos valoroso do que o que acabei de especular, seria de fato:
O GRANDE MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO.
Pois bem, este é o tema de nosso estudo desta noite. A doutrina da encarnação sumiu de nossos púlpitos, onde ela está? Por onde anda? Até mesmo em Igrejas confessionais tal doutrina não recebe a devida atenção; estaríamos prontos a vasculhar o credo e procurar nesta doutrina as dracmas perdidas da Igreja? Alguns, têm sugerido que tal doutrina, a encarnação, serve apenas para os círculos acadêmicos. É verdade que muitos de nós aqui pode até pensar desta forma, todavia, não deveria ser visto por este prisma. A encarnação é a doutrina da Igreja – no sentido mais prático do termo – e não pode ser relegada o mero intelectualismo árido que marca o nosso tempo.
O credo quando é recitado na Igreja fala-nos disso de forma muito clara, e precisamos compreender isso da forma mais prática e vivencial possível, este tem sido o meu grande desafio ao ministrar-lhes estas singelas aulas.
O nosso símbolo de fé diz “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por Obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...” estas palavras me deixam perplexo, pois, nos comunicam algo mais do que os melhores livros poderiam fazê-lo; estas palavras nos falam que Deus decidiu tornar-se um homem! A Segunda Pessoa da Trindade, Deus, o Filho foi “Concebido”! Nossa! Isso é elevado de mais para cada um de nós aqui nesta noite. Mas é a fé da Igreja e não pode ser negligenciada. Deus veio até os homens em forma humana. Isso é importante para todos nós que somos salvos, sem a encarnação não haveria a possibilidade de redenção.
O credo diz que a Igreja crê na realidade histórica da encarnação. Por que digo isso? Bem, porque muitos têm dito que não existe tal milagre! Vejamos o que podemos aprender sobre tais palavras com muita parcimônia.
A primeira questão que desejo chamar a sua atenção no credo é a expressão: “o qual foi concebido...” a palavra chave para toda a nossa abordagem está aqui “concebido” o termo grego pode ser traduzido por “gerado”, isso nos lembra a afirmação de calcedônia em 451 d.C – “gerado, não feito” – a idéia que o credo nos passa é que Cristo não veio ao mundo por ato criativo de Deus, o que de fato o colocaria na função de criatura de Deus! Gerar é algo mais profundo do que criar.
O que está envolvido aqui diletos irmãos em Cristo? Quando o credo usa o termo “concebido” está nos dizendo que Cristo tinha a mesma natureza do Pai. Reiteremos este assunto porque possui uma capital importância para cada um de nós. A negação deste principio basilar leva-nos para uma linha de uma cristologia truncada, anti-cristã e anti-filosófica.
A encarnação tornou-se possível devido ao papel ativo do Espírito Santo; isso é demonstrado em nosso credo que diz “...foi concebido por obra do Espírito Santo...” quando olhamos para esta declaração nos perguntamos, o que significam estas palavras? Estas palavras significam que O Espírito Santo esteve santificando o ventre da virgem para que esta pudesse receber o Filho de Deus. A obra do Espírito estava vinculado ao fato de que a concepção de Cristo deveria ser basicamente erigida sobre este princípio imperecível. O ventre de Maria deveria ser santificado para que a corrupção do gênero humano não passe para o redentor.
Qual era a função do Espírito Santo neste grande evento da encarnação? Um grande erudito nos diz que a função do Espírito Santo era “conservar a santidade e a impecabilidade daquele que estava para nascer”[2]; estamos de acordo com isso? Sim. Pois a evidência bíblica nos inclina para isto conforme Lucas 1.35.
A obra santificadora do Espírito sobre o ventre da virgem era de notável necessidade uma vez que todos (homens e mulheres) nascemos corrompidos conforme nos ensina o santo apóstolo em Romanos 5.12, era preciso que a doutrina da encarnação preconizada em Gênesis 3.15 encontrasse espaço mediante a ação do Espírito Santo – o descendente prometido deveria vir ao mundo para redimir, ser salvador e só poderia fazê-lo tendo uma natureza livre do pecado.
Isso nos leva para outra verdade ensinada no credo “o qual foi concebido por obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...”esta declaração do símbolo de fé deixa-me perplexo! Ele nasceu... Cristo veio ao mundo. Deus era uma criança nos colos de uma mortal! Aqui se retrata a profunda humilhação de nosso redentor. Ele nasceu de uma mulher.
Isso era necessário? A resposta deve ser positiva, pois, vemos no nascimento de Cristo o cumprimento de Gênesis 3.15. Ele era o segundo Adão que nos fala o apóstolo em Romanos 5. Ele tinha que ser humano perfeito. A doutrina enunciada aqui nos conduz para a compreensão da solidariedade da raça humana. Cristo partilhou de nossa natureza, ele recebeu uma natureza humana verdadeira – herdada de Maria – todavia, com diz Calvino, uma natureza “viciada a tantas misérias”[3] a humilhação de Cristo está aqui clara diante de nós. O credo confessa isso. Ele se humanizou, e vestiu os trapos de nossa carne. ( Fp. 2.5-11)
O nascimento virginal de Cristo mais a ação soberana do Espírito Santo mostra a novidade da historia redentiva que Deus estava executando. O seu Filho estava vindo ao mundo para redimir o seu povo. O Seu Filho Santo veio habitar com os pecadores.
Note algo fundamental no credo. Não diz que ele veio ser depositado no ventre da virgem! Ele veio nascer. Ele nasceu, o seu nascimento foi natural – não foi algo magistral, foi simples, todavia, foi milagroso, pois, uma virgem gerou o Filho de Deus; aqui ecoa a realização do dito profético de Isaías 7.14 como boas-novas aos pecadores.
Quando o credo diz que ele “nasceu da virgem” se tem em mente mostrar que ele [Cristo] tomou para si uma alma humana verdadeira e que tinha um corpo real verdadeiro tangível ao toque humano Jo. 20.27-28. A Bíblia está repleta desta verdade que não pode ser negada.
Aprendemos pelas Escrituras que ele se “encarnou” conforme lemos em João 1.14; ele habitou entre nós. Já dissemos em outra ocasião que o verbo habitou aqui nesta passagem indica que “Deus tabernaculou”, armou a sua tenda em nosso meio. Ou seja, o nascimento do Filho Deus era a manifestação plena do dito profético que diz “seu nome será Emanuel” que quer dizer “Deus conosco”! Este deve ser o entendimento desta questão da encarnação.
A Bíblia ensina que Cristo tinha uma alma humana verdadeira vemos isso em Mateus 26.38, uma alma que poderia ser marcada pela tristeza; pela angústia de morte! Este é o ponto em questão, ele era homem pleno em sua constituição e negá-lo seria ir contra toda a evidência Bíblica.
Em nossas leituras bíblicas também aprendemos que Cristo de fato nasceu da virgem conforme nos ensina o credo que recitamos dominicalmente, a Bíblia diz que ele nasceu desta virgem que o credo apresenta o nome “Maria” Lucas 1.27,21,42.
Mas o credo está também focalizado na realidade de que o nascimento de Cristo vindo por uma virgem era de fato a inauguração de novo momento na história da redenção dos homens conforme aprendemos em Galátas 4.4 – na plenitude dos tempos – isso indica que o nascimento de Cristo inaugura o fim de uma era marcada pelo pecado e inaugura uma nova época. Ele é a concretização da esperança escatológica do período veterotestamentário. Então, Maria não está em cena neste aspecto de forma alheia a vontade de Deus, mas está exatamente para fazer cumprir o propósito de Deus para a redenção da humanidade que é restaurada em Cristo.
Cabe então, uma pergunta: Maria é co-redentora? Não. Ele não é redentora, mas é redimida pela ação de Deus. Ela crer em seu salvador – bastar ler o seu cântico no Evangelho de Lucas - o que este aspecto do credo sumariza para cada um de nós nesta noite é que Cristo tinha de fato uma natureza humana herdada de sua genitora. Todavia, ela gera a pessoa do redentor que é Deus e homem.
A encarnação de Cristo e sua geração no ventre da virgem nos aponta para a realidade da humanidade perfeita – perfeita? – Sim! Porque Cristo é sem pecado, ou melhor, concebido sem pecado. Isso não quer dizer que a relação marital seria pecado, especialmente neste caso aqui, mas significa que o efeito do ato miraculoso do nascimento virginal chama atenção para a mensagem redentiva de Deus ao homem. A sua concepção no ventre da virgem nos alude a questão de que formos feitos para sermos perfeitos, mas o pecado mudou tudo isso! É no ventre de Maria que pecado começa a ser tratado como deveria ser encarado, ou seja, como algo que corrompe todos os propósitos divinos, por isso, para a resolução do problema chamado de pecado é necessário uma intervenção divina – por isso, temos a menção ao Espírito Santo no credo – o Espírito Santo possibilita a chegada de Cristo ao mundo dos mortais.
Mas, é bom que se diga que o credo está rejeitando a noção gnóstica, conforme já temos abordado, pois, a realidade da encarnação é que Cristo sendo Deus veio até nós pecadores. Isso nos leva a entender que a matéria não é má conforme era ensinado pelos gnósticos. O propósito de tudo é a glória de Deus neste assunto. Deus é glorificado no simples fato de que o seu Filho Jesus Cristo assume a nossa natureza para puder satisfazer a justiça eterna de Deus.
Que lições aprendemos aqui?

1 – Aprendemos que o pecado é algo sério: Cristo vem e se faz homem porque o pecado corrompeu toda a raça humana, e apenas um homem perfeito poderia de fato satisfazer a ira de Deus, por isso, devemos odiar o pecado pois ele corrompe tudo o que deveria ser perfeito.

2. Aprendemos que a humildade é singular no cristianismo: O próprio Cristo nos ensina isso de forma evidente, ele sendo o Senhor do universo, criador de todas as coisas no cosmos decide vestir-se da carne humana. É uma grande lição para cada um de nós aqui. O nosso Deus veio habitar entre nós! Isso exige e nós humildade.

3. Aprendemos que temos esperança: A encarnação de Cristo nos ensina que há uma esperança fundamental na vida da Igreja, é o fato de que a humanidade perfeita foi apresentada a Deus por nosso redentor, isso nos dá esperança de que tudo o que hoje somos – com dor, lágrimas, perdas gritantes e morte – é nada diante da nova era inaugurada pelo Redentor! Temos a certeza de que a nossa humanidade está segura porque o nosso Deus veio e se fez homem e cumpriu as exigências da lei em nosso lugar.
[1] O Autor é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. É fundador e atualmente lidera a Congregação Presbiteriana da Sagrada Herança Reformada em Prazeres – Jaboatão dos Guararapes.
[2] FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 1 edição, 2000, p.50.
[3] CALVINO, João. The Gospel according to John, Edingurgo: St. Andrew Press,1959, p.20.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

TEOLOGIA BIBLICA

TEOLOGIA BÍBLICA EM FOCO:
A MISSÃO DA IGREJA NESTE MUNDO – UMA ABORDAGEM DE ATOS. 1.8.
Por: João Ricardo Ferreira de França[1].

Texto Grego: “alla lêmpsesthe dynamin épelthontos tou hagiou pneumátos eph hymas kai esesthé mou martyres en te Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”[2]

“ Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”

O texto que temos diante de nós é significativo, pois, nos oferece profundas verdades a respeito do evangelho de Cristo, mas especialmente a respeito da Igreja Primitiva.
Todos nós estamos cientes de que este texto foi escrito para descreve a expansão da Igreja durante os seus 30 primeiros anos após a elevação de Cristo aos céus.
Este texto está dentro do contexto da ascensão de Cristo como já afirmamos. Na verdade ele consiste no plano de ação da Igreja no que diz respeito a evangelização e a relação do Espírito Santo com a mesma.
Nos versículos anteriores que nós consideramos como contexto imediato anterior temos os ensinamentos finais de Cristo, todavia, o mestre é interrompido por uma questão escatológica: “Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”(Atos.1.6).
É percebido no texto um contraste entre o ensinamento de Cristo “concernente ao Reino de Deus”(vs.3) e o “reino de Israel”, esse contraste mostra-nos perspectivas diferentes quanto ao que era de fato a função da Igreja. Como se faria presente o reino Deus? Se evidenciaria “pela promessa da vinda do Espírito Santo”(vs.4). Mas, os discípulos não estavam muito interessados na perspectiva do reino de Deus, que era apresentada por Cristo, eles queriam apenas a questão de uma libertação do domínio romano que estava no cenário naquele momento.
Qual é a resposta de Cristo a esta questão escatológica? Cristo responde de maneira satisfatória a esta indagação ao dizer: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.”(vs 7). Cristo diz que não era da competência deles especularem quando haveria de se estabelecer o reino de forma plena, isto porque o Reino estava na proclamação Kerygmática (pregação) de Cristo e na promessa da chegada do Espírito Santo. Este é o ponto que temos diante de nós. Pois, não é o esforço humano que vai trazer a plena manifestação do Reino – mas o próprio poder de Deus! – aqui fica claro pelas palavras de Cristo. Também vemos que não se trata de uma manifestação do reino unicamente visível aos olhos, mas de algo que já estava presente entre eles.
Então, Cristo volta-se e diz: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”(vs.8).
Ele começa colocando-nos uma oposição, ou melhor, um contraste com aquilo que estava sendo dito pelos discípulos, ele diz: “mas” esta palavra é uma conjunção adversativa; e no texto grego “alla.” é usada para expressar algo com intensidade, enfatizar, chamar a atenção. Cristo está dizendo que eles deveriam deixar de pensar escatologicamente concernente a um reino futuro e visível.; Pois, o esforço o humano não traria este reino de forma automática. A função da Igreja é proclamar a mensagem do Reino e não especular quando o reino será plenamente manifestado. Agora por que Cristo usa este contraste? A resposta está no fato de que a Igreja deveria receber uma capacitação específica para poder proclamar o Reino de Deus.
O nosso texto diz: “Recebereis” este verbo no texto grego é “lêmpsesthe”ele é um verbo defectivo, pois, está na voz média depoente, ou seja, é um verbo que tem a forma passiva, todavia, o sentido é ativo; o modo é indicativo e o tempo é futuro. O modo indicativo aponto para a certeza do recebimento. Eles de fato são assegurados disso, e o futuro indica que não é uma mera conjectura, mas expressa que isso de fato ocorrerá.
A questão diz respeito o conteúdo deste recebimento que é o “Poder”. A palavra que encontramos aqui é um substantivo no caso acusativo feminino singular, este termo no grego “dynamin” possui uma série de significados tais como ‘força’, ‘habilidade’, capacitação’. Como entender o termo aqui neste texto? Pensamos que a palavra deve ser compreendida no sentido de “habilitação’ ou ‘capacitação’. É um poder que capacita ou que habilita.
Mas, quando vem tal poder capacitador? Em que momento a Igreja experimentaria tal poder? O texto nos diz que é quando “descer sobre” aqui Lucas usa um particípio grego “épelthontos”. Sabemos que o particípio refere-se a uma ação passada com resultados duradouros; no caso em apreço nós temos um verbo no particípio aoristo que indica uma ação passada de forma completa e única – não repetida – ou seja, Lucas diz que a Igreja receberia tal poder depois de algo “descer sobre ela”, uma melhor tradução que expressaria adequadamente o sentido deste particípio seria “tendo descido sobre”, mas a idéia é de vir sobre; ou mesmo de derramar.
A questão é: o que seria “derramado” ou que “viria sobre” a Igreja? A resposta vem posteriormente, diz o texto “tendo descido o Santo Espírito”. Note que não é o poder que é derramado, mas o Espírito que gera o poder é que é derramado. Notemos que este Espírito é adjetivado como sendo santo. O atributo de santidade do Espírito não é negligenciado pelo Texto, refere-se que este poder que a Igreja receberia não seria corrompido, mas santo, pois, sua fonte é o Espírito Santo de Deus.
A Igreja não é marcada por um poder que não produz santidade, mas antes de tudo é necessário que o poder da Igreja reflita a santidade inerente ao doador de tal poder – O Espírito Santo de Deus. Crer que a Igreja é Santa significa acreditar que o poder da instituição ekklesia é santo; isto tem sua razão pela capacitação e santificação do Espírito na vida da Igreja.
A Igreja não é santa em si mesma. Ela é santa porque é a habitação do Espírito Santo, outro aspecto teológico disso é que o Espírito Santo vem graciosamente habitar na Igreja. Ele é derramado sobre a Igreja conferindo a ele um poder sem igual neste mundo, um poder que somente ela tem e nenhuma outra instituição pode ter tal poder que é conferido à Igreja, nenhum Simão pode comprar tal doação divina!
Mas, sobre que vem o Espírito Santo? Sobre todos os homens? Não. O Espírito vem sobre o povo do pacto – este povo chamado Igreja – sobre ninguém mais, pois, o lugar de habitação do Espírito Santo. O Espírito seria derramado abundantemente sobre a Igreja neotestamentária “eph hymas”- sobre vós – Cristo particulariza a habitação do Espírito, assim como a redenção é particular, os efeitos e a aplicação da mesma redenção devem ser particulares. O mundo não pode receber o Espírito Santo, pois não vive no momento escatológico da ressurreição e ascensão de Cristo aos céus, e nem muito menos tem a esperança, esta outorgada pelo Espírito, da volta de Cristo[3]. O Espírito deve habitar naqueles que são alvos da morte redentora de Cristo. Isto significa que a habitação do Espírito é para os eleitos de Deus – “sobre vós” ele virá diz Cristo aos seus discípulos.
Com qual finalidade o Espírito seria derramado na vida da Igreja? Qual é a conseqüência disso na vida da Igreja? A conseqüência é que a Igreja seria transformada em proclamadora de Cristo ao mundo. O Espírito Santo habita na Igreja para fazê-la uma testemunha da obra de Cristo aos homens.
Cristo diz: “sereis minhas testemunhas” o autor do livro usa o verbo “esesthé,” que é um indicativo futuro na Segunda pessoa do plural. Nos chama atenção o modo como este verbo está sendo o usado – ele está no indicativo – o modo indicativo aponta para um fato concreto, ou seja de fato vocês serão minhas “testemunhas”. O uso do pronome possessivo aqui “minhas” - mou– indica-nos que Cristo continua sendo o Senhor da Igreja e que exige dela o não silenciar-se diante do mundo. O senhorio de Cristo é manifestado mesmo quando somos vocacionados a proclamar o evangelho, pois, sempre estaremos proclamando a Palavra de Cristo e não a nossa. A Igreja foi transformada e capacitada a ser “testemunha” o termo grego aqui “martyres” significa mais que pregar o evangelho com a voz, pois, o termo é usado para aquele que é martirizado por causa do evangelho. Ou seja, na vida e na morte a Igreja deve testemunhar de Cristo ao longo dos tempos. Cristo deve ser visto na pregação e na vida da Igreja – esta foi a capacitação que a Igreja recebeu do Espírito Santo.
Nós não apenas temos diante de nós os ensinos, no que diz respeito ao papel do Espírito Santo sobre o determinado aspecto do capacitar que este derramar envolve a Igreja de Cristo, mas temos também o plano de ação missiológica oferecido por Cristo a sua Igreja.
Cristo não apenas nos promete a capacitação adequada, que é manifestada pelo Espírito Santo, mas também ele nos indica o caminho por onde a Igreja deve trilhar, por onde a Igreja deve agir. Ele diz: “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
Alguém poderia dizer, Cristo tudo bem nós iremos receber este poder para testemunhar, mas por onde devemos começar? Onde está o nosso campo de ação? Parece muitos seminaristas e pastores indagando a Deus. A resposta de Cristo é simples: “Em todos os lugares onde ninguém tenha ouvido falar de mim”. Este é o ponto. Aqui não há uma seqüência cronológica como muitos têm proposto, mas a ação aqui deve ser vista como simultânea. Isso pelo uso maciço que é feito das conjunções no texto: “en tê Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”.
O foco é Jerusalém deve-se começar aqui, ou melhor, o testemunho iniciará por ali. O pentecostes é uma prova cabal disso. Começa com os que estão tão próximos é o primeiro passo missiológico da Igreja, mas não esquecer os que estão um pouco distantes “Judéia”, pois, eles também precisam do mesmo Cristo e do mesmo evangelho, não se deve concentrar-se em apenas um lugar, mas em todos, inclusive entre aqueles que não julgamos ser merecedores do evangelho “Samaria” – mas a missão ela só é completada quando o útimo da terra for alvo desta evangelização, isto indica que a disposição da Igreja é proclamar o evangelho a toda a criatura segundo as ordens de Cristo. Diante disso que verdades podemos aplicar as nossas vidas sobre estas questões levantadas?

1. Compreender que a Igreja se manifesta pela finalidade com qual Deus a estabeleceu.
2. Compreender Que Deus capacita a Igreja para cumprir os seus propósitos redentivos.
3. Aplicar a verdade de que a nossa Eclesiologia é definida pela ação soberana do Espírito Santo sobre a nossa vida.
4. Viver a realidade de que não podemos transferir a nossa responsabilidade missiológica, pois, a Igreja foi capacitada para proclamar o evangelho, isto significa que não deveríamos nos apoiar nas muletas das agências missionárias, transferindo para outros o que é de inteira responsabilidade da Igreja.
5. Confiar que apenas Deus nos indica o campo, isto também mostra que apenas ele produz os resultados da Igreja, ou seja, a nós não foi dada a tarefa de produzir corações que adorem ao Senhor, mas nos foi confiada a palavra da reconciliação para ser proclamada.


[1] O autor é Membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atualmente está bacharelando em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) e lidera uma Congregação Presbiteriana em Prazeres – End. Rua 1 ao lado do Supermercado Arco-íris.
[2] Esta é uma transliteração: significa que os termos gregos foram substituídos pelos seus equivalentes em português para que leitor saiba o que se está lendo.
[3] Estou pensando como teólogo bíblico, mas não estou negando que haja alguma operação do Espírito na vida daqueles que não são crentes, pois, sabemos que a doutrina da Graça comum diz respeito a essa operação do Espírito na vida dos não eleitos.

ESTUDANDO A CONFISSÃO DE FÉ

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.
CONGREGAÇÃO PRESBITERIANA DA SAGRADA HERANÇA
REFORMADA.
REFLEXÕES NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
Prof. João Ricardo Ferreira de França.[1]
Jrcalvino9@gmail.com / jrcalvino9@hotmail.com / jrcalvino9@yahoo.com.br


RESUMO: Capítulo 1 – seção: 1

Introdução: Temos percebido que a doutrina da revelação de Deus tem sido negligenciada por muitos crentes, os de posição históricas e tradicionais – com um formalismo letárgico que parece que não existe mais nada a ser dito sobre estas questões; por outro lado, pessoas há que defendem a revelação de Deus em termos extraordinários. O que nós podemos fazer? Que respostas podemos oferecer a nossa geração? O que aprendemos aqui nesta seção da Confissão de Fé de Westminster?

I- Aprendemos que existe Uma revelação chamada de geral na qual Deus é visto como criador:

A revelação de Deus dada através da natureza é conhecida como revelação natural ou geral. Esta forma da revelação de Deus manifestam alguns atributos fundamentais:
1. Bondade: Ao olhar para a criação nós percebemos tudo é fruto da bondade de Deus, esse mundo foi criado para refletir a bondade de Deus aos homens “e viu Deus que tudo era bom”(Gn.1.31).
2. Sabedoria: Ao contemplar a ordem que há na criação, somos inclinados a perceber que toda a criação é fruto de um Deus sábio. Tudo o que existe revela a sabedoria de Deus neste mundo. (Salmo 104).
3. O poder de Deus: As obras da criação e providência nos falam do poder de Deus ao criar o mundo ex-nihilo (do nada) revela o poder soberano de Deus ao criar o mundo.
A Escritura nos ensina isso de forma clara em textos como Salmos 19.1-4; Romanos 1.19-20. Ou seja, toda a criação como tal revela Deus aos homens de maneira incondicional. A revelação natural tem sido conhecida como o “livro de Deus visto pelos olhos dos homens, a professora sem voz que ensina com sua beleza e gestos”.

II – Aprendemos que os homens diante desta revelação são indesculpáveis.

A confissão nos ensina, como declara a Bíblia, que os homens são indesculpáveis perante Deus, pois, o livro da criação os coloca nesta condição. Eles ( os homens ) têm a Lei de Deus gravada em seus corações (Romanos 2.14-16) esta é chamada de revelação geral imediata, pois, Deus não se utiliza de meios para comunicar a sua verdade, antes a esculpe no coração do homem. E assim os homens se tornam mais indesculpáveis perante o juízo do Deus (Romanos 1.18-32).

III – Aprendemos que a revelação geral não pode conduzir o homem ao caminho de salvação.

Onde está a falha? Na revelação de Deus dada na criação? Não. A falha está no homem que adora a criação em lugar do criador(Romanos 1.25-31). O caminho de salvação não é indicado pela criação, pois, ela aponta para um criador, mas não para um redentor. Este é o ponto. A revelação geral ou natural tem esse objetivo.

III – Aprendemos que essa revelação de Deus é orgânica e progressiva.

Deus ao longo dos tempos decidiu revelar a sua vontade salvadora aos homens, esta verdade ela assemelha-se a uma semente (orgânica) que nasce para gerar uma árvore dia-a-dia (progressiva). É uma mesma revelação dada em tempos diferentes (Hebreus 1.1) note que no texto de Hebreus os verbos estão todos no aoristo ( tempo grego que indica uma ação completa que não pode ser repetida) ; isso, em diversos modos – profetas, sacerdotes , sonhos, visões e revelações extraordinárias.

IV - A revelação especial como um conforto para a Igreja de Cristo.

A revelação especial é o registro infalível da vontade de Deus concernente a sua vontade salvadora. O registro da revelação tem três propósitos:
1. para melhor preservar a verdade.
2. Para melhor propagar a verdade.
3. Para o conforto da Igreja.
O conforto e estabelecimento da Igreja no registro da revelação tem em vista três inimigos mortais da Igreja de Deus:
1. A corrupção da Carne.
2. A malícia de Satanás
3. A malícia do Mundo.
V – Aprendemos que a revelação especial, no que diz respeito a salvação do homem e condução da Igreja, está plenamente escrita – ou seja, ela é completa.

A Confissão de Fé nos ensina que o registro da revelação no que diz respeito a questão da salvação de pecadores e em relação a vida da Igreja a Bíblia é completa – não falta nada na Bíblia no que diz respeito a estas questões.

VI – Aprendemos que a revelação especial é suficiente.

Nesta seção de nossa Confissão de Fé aprendemos que a Escritura é indispensável – significa que é suficiente não precisamos de sonhos, revelações adicionais, profecias e línguas, pois, temos a Bíblia como sendo a nossa única fonte de revelação escrita. Deus só fala através da sua revelação especial – a Bíblia Sagrada! (veja-se Hebreus 1.1-2 - o verbo falou está no aoristo que indica uma ação completa que não se repete).
[1] O autor deste estudo é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. É fundador e Lidera a Congregação Presbiteriana da Sagrada Herança Reformada em Prazeres – Jaboatão dos Guararapes – PE. Atualmente está bacharelando em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte em Recife – PE.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

COMO ENCONTRAR UMA IGREJA VERDADEIRA?

A PREGAÇÃO FIEL COMO MARCA DISTINTIVA DE UMA IGREJA VERDADEIRA
TEXTO BÁSICO: 1 Coríntios 1.21-25.


Introdução: A nossa época é marcada pela crise na pregação da Palavra de Deus, ironicamente a mídia televisiva, radiofônica e impressa tem divulgado pregações, cd’s, dvd’s e livros com pregações têm abarrotado as livrarias de modo geral. Ainda , assim, olhamos em nossa volta e percebemos que a pregação continua ausente em nossa época. Por que tudo isso? O púlpito está perdido em nossa época.
Há um grito desesperado no coração dos crentes. Eles pedem uma Igreja verdadeira. Onde está esta Igreja? Ora, esta igreja só pode ser achada quando o púlpito ressoa a trombeta de Deus, ou como coloca Paulo, quando a loucura de Deus se manifesta! A pregação é a marca distintiva da Igreja. Esta marca era usada pelos reformadores para identificar uma Igreja verdadeira. Mas, em nossa época tornar-se difícil de encontrar um púlpito fiel, e o que dizer de uma igreja verdadeira.
Alguém poderá perguntar: é realmente necessário a pregação? Por que vocês presbiterianos dão tanta importância à pregação? Porque ela é o divisor de águas entre o céu e o inferno. Chapell nos lembra algo interessante sobre isso:

“Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de tão amplas conseqüências. Reconhecemos que o nosso coração não é puro o bastante para guiar outros à santidade. Uma honesta avaliação de nossa perícia inevitavelmente nos leva à conclusão de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de lavar as pessoas da morte para a vida.”[1]

Nos dias de hoje o sermão é desprezado pela Igreja de Cristo com tanta facilidade que C.H.Spurgeon chgou afirmar o seguinte: “A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor”[2] As palavras de Spurgeon ressoam em nossa época, pois, na verdade tal negligência têm ocorrido em nossos dias, por isso, precisamos encarar este assunto com mais seriedade. Neste breve estudo falaremos sobre a Pregação Fiel como a marca distintiva da verdadeira Igreja.
Pois, a Igreja sem pregação assemelha-se a corpo sem alma, ela não tem vida. Ela tem barulho, choro e gritos – como acontece em um funeral – mas muitos têm atribuído isso ao Espírito Santo, todavia, não percebem que o Espírito age com e por meio da palavra.



I - A HISTÓRIA DA PREGAÇÃO – SUA MAJESTADE E GLÓRIA.

Não podemos falar sobre este assunto sem entendermos como a História da Igreja o encarou, ou seja, como a Igreja viu a questão da pregação fiel da palavra? No texto que lemos Paulo valorizava a pregação oferecendo conotações dramáticas. O que é a pregação? Stott nos diz que é “a ênfase exclusiva do cristianismo”[3].
Por onde começar a nossa peregrinação histórica da pregação? Dargan nos indica que tal procura deve ser vista no próprio cristo, pois, o “Fundador do cristianismo, pessoalmente, foi o primeiro dos seus pregadores...”[4] os evangelhos apresentam cristo como indo e “proclamando as boas-novas de Deus” (Mc.1.14; 1.39; Mt.4.17; 4.23; 9.35).
Somos informados pelas Escrituras que os apóstolos davam prioridade à pregação da Palavra em Atos 6.4.
Os pais apostólicos insistiram nesta mesma temática – a pregação fiel da palavra – conforme vemos no relato de Justino Mártir:

E no dia chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior reúnem-se juntos num só lugar, são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, por tanto tempo quanto possível; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente, e exorta à imitação dessas coisas virtuosas. Em seguida, todos nos colocamos de pé e oramos e, conforme dissemos antes, ao terminarem as nossas orações são trazidos pão, vinho e água, e o presidente, de modo semelhante, oferece orações e ações de graças, segundo a sua capacidade, e o povo concorda dizendo amém.[5]

Outro pai apostólico chamado Tertuliano diz basicamente a mesma verdade sobre a pregação da palavra no dia do Senhor. Mas, penso que não existe pregador mais proeminente na história da Igreja do que o João Chryssostomos – conhecido como o Boca de Ouro – bispo na Igreja Grega; os historiadores dizem que pregação de Chryssostomos possuía quatro características basilares que veio a tornar-se padrão para a pregação fiel;
1. Era uma pregação Bíblica.
2. Interpretação simples e direta.
3. Aplicação prática.
4. Era destemida em suas colocações.

Na realidade ele “era mártir do púlpito, pois foi principalmente sua pregação fiel que provocou o seu exílio”[6]. No período dos reformadores e dos puritanos a pregação recebeu tamanha importância, a ponto de o bispo Latimer dizer: “A Palavra de Deus é semente para ser lançada no campo de Deus” e “o pregador é o semeador”, o título deste sermão era “Mão no Arado”, durante um momento de sua pregação Latimer , faz uma pergunta inusitada: “Quem é o bispo e prelado mais diligente em toda a Inglaterra, que supera todos os demais no exercício do seu cargo? ...Vocês querem saber quem é? – é o Diabo. É ele o pregador mais diligente entre todos dos demais”, ele prosseguiu:
Nunca está ausente da sua diocese; nunca está longe de sua comunidade eclesiástica; você nunca o achará desocupado; sempre está na sua paróquia; mantém resistência a todo tempo; você nunca o achará indisponível... Onde o Diabo está em residência e está com seu arado em andamento, ali: fora os livros e vivam as velas!; fora as Bíblias e vivam os rosários!; fora a luz do evangelho e viva a luz das velas – até mesmo ao meio-dia!; [...] vivam as tradições e as leis dos homens!; abaixo as tradições de Deus e sua santíssima Palavra! [...] portanto vocês, prelados que não pregam, aprendam com o Diabo: a serem diligentes no exercício do seu cargo [...] Se vocês não quiseram aprender de Deus, nem de homens bons, a serem diligentes no cargo, aprendam do Diabo.[7]
Ou seja, se somos preguiçosos para estudarmos a Palavra de Deus para aplicar, pregar e defendê-la, se não pregamos e expomos a Palavra de Deus aos homens somos inimigos da causa do evangelho. E a pregação é o único veículo pelo qual o mundo pode encontrar salvação.
Então, pregue a Palavra, pois, a pregação continua sendo majestosa e é nosso dever pregar com autoridade singular sem reservas, sem medo, e crendo que Deus tem usado este método para salvar pecadores como declarou Paulo no texto que citamos acima.

II – A PREGAÇÃO FIEL É AQUELA QUE EXPÕE O TEXTO.

Algumas pessoas dizem que tudo o que vemos na Igreja nos Domingos à noite deve ser caracterizado como pregação; todavia, a autêntica pregação é aquela que expõe o texto, conhecida como pregação expositiva. Ela deve ser uma prática na vida daqueles que sobem ao púlpito; temos visto que, muitos preferem pregar temática ou topicamente. Por que? Bem, porque é mais fácil pregar em cima de um tema; geralmente os teólogos sistemáticos pregam desta forma; trabalham temas na Igreja no Domingo à noite – não estou dizendo que a pregação não deva Ter um tema – o que estou dizendo é que o texto não pode ser exposto com a pressuposição doutrinária que se deve abordar.
Deixe-me explicar: Imagine que você quer pregar sobre a trindade. Então, lança mão do texto de Gênesis 1.1 para fundamentar a doutrina; a primeira pergunta a ser feita é: Moisés estava pensando na Trindade quando escreveu este texto, especialmente no uso do substantivo plural elohim? E se formos sinceros diremos que não, logo o texto não serve, mas isso anula a doutrina? Não. Agora você prepara um estudo sobre o assunto, e começa com João 14.23 – “viremos e faremos nele morada” cristo está falando de uma Trindade? Sim. Então eu posso agora compreender Gênesis 1.1 – ali vejo, pelo escopo de toda a revelação, a forma embrionária da Trindade.
A pregação expositiva ela se concentra apenas no texto que é lido. Por que é tão difícil pregar expositivamente? Porque exige mais do pregador:

1. Exige conhecimento histórico: o contexto da passagem deve ser levado em consideração.
2. Exige conhecimento do texto original e de sua gramática
3. Exige conhecimentos de exegese e hermenêutica.
4. Exige muita leitura – manuais de exegese, manuais de interpretação, comentários bíblicos.
5. Exige conhecimento dos sistemas doutrinários: credos, confissões, teologias sistemáticas.

A Igreja sempre pregou expositivamente? Esta é uma grande pergunta. A resposta é afirmativa, pois vemos isso no dia de Pentecostes que o sermão de Pedro foi expositivo, veja como está estruturado o sermão:
I – Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus.
ü Em Sua vida
ü Em Sua morte
ü Em Sua Ressurreição
ü Em Sua ascensão aos Céus.
II - Jesus recebeu o Espírito santo e derramou o que vocês vêem e ouvem .

III – Deus fez a este Jesus, Que vocês crucificaram, Senhor e Cristo.

IV – Aplicação
1. Arrependam-se
2. Sejam batizados em o nome de Jesus Cristo.
V – Promessas:

1. Remissão dos pecados
2. Dom do Espírito Santo
3. Inclusão dos Filhos
4. E muitos que estão longe, tantos quantos o nosso Deus chamar.[8]

Outro texto neotestamentário que nos apresenta uma pregação expositiva é Atos 7 – conhecido como o sermão de Estevão. Este tipo de sermão sempre esteve presente na vida da Igreja desde os seus primórdios, o sermão do monte que Cristo proferiu é expositivo.
Por que pregar expositivamente? Penso que a pregação expositiva nos oferece algumas verdades fundamentais:

1. Restaura a pregação da crise.
2. Anula os métodos subjetivistas ( místicos )
3. Restaura a autoridade da Bíblia
4. Restaura a vida da Igreja.

Estas quatros realidades são manifestadas quando pregamos expositivamente. Isso implica em algumas coisas. Primeiro, nos mostra que a crise na pregação de hoje é o resultado da nossa negligência, pois, não estamos pregando a Bíblia fielmente. Esquecemos do que Paulo nos diz em 1 Coríntios 4.1-2 nossa pregação deve ser fiel; em segundo lugar, os métodos subjetivos deve ser rejeitados quando pregamos expositivamente a palavra, um exemplo disso, é o uso que muitos fazem de João 14.6, e dizem que vêem ali três coisas: Caminho – indica a lei de Deus.
Verdade - Indica que o mundo é uma mentira
Vida – indica a Pessoa de Cristo.
Esta abordagem do texto é subjetiva, e ignora a exegese do texto. Jesus não está dizendo três coisas distintas, mas ele está usando uma figura chamada Tríade Sinonímica. Isto quer dizer que Cristo estava dizendo uma única coisa: Eu sou o caminho vivo e verdadeiro. Então não adiante pegar este texto para fazer uma pregação de três pontos!
Quando pregamos expositivamente restauramos a autoridade da Bíblia, estamos dizendo ao nosso povo que todas as nossas idéias derivam da Bíblia. Ou seja, a pregação expositiva diz que a Bíblia continua sendo o padrão absoluto em um mundo pós-moderno. Por que dizemos isso? É porque sabemos que nem “todas as respostas que a igreja proporciona por meio dos seus pregadores proclamam boas-novas. Algumas simplesmente abandonaram toda esperança de encontrar uma fonte da verdade que tenha autoridade.” A Bíblia se torna o centro do culto e da vida do crente quando é confrontado expositivamente pelo texto sagrado no Domingo à noite. “Tal pregação apresenta a voz de autoridade que não procede do homem e assegura respostas não sujeitas a fantasias culturais”.[9] A Bíblia recebe plenamente a autoridade quando pregamos fielmente as Escrituras.
A pregação expositiva também oferece vida para a Igreja. A lei de Deus quando é ensinada oferece vida e vivifica a alma (Sal. 119.25; João 6.68). A pregação é a palavra de Cristo à Igreja; é nosso dever pregar expondo a Bíblia.

III – A PREGAÇÃO FIEL ESTÁ COMPROMISSADA COM A SUFICIÊNCIA DA BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS.

Como identificar uma Igreja verdadeira? Bem, temos visto que a pregação fiel da palavra é a principal marca de um Igreja verdadeira. Não é qualquer pregação, note é a pregação fiel. Ou seja, ela deve ser fiel a revelação de Deus. Isso nos leva para o principio da Reforma chamado de Sola Scriptura ( somente as Escrituras ).
Todo sermão deve refletir a crença incontestável de que a Bíblia é a única fonte de autoridade na vida da Igreja. Os que não crêem assim podem até pregar, mas não são pregadores fiéis a Bíblia, e assim, a Igreja que pastoreiam não pode ser classificada como Igreja verdadeira.
O que estamos querendo dizer é que a pregação expositiva condena toda prática e doutrina que suplanta as Escrituras por meio de novas revelações ou tradições humanas. O “assim diz o SENHOR” das Escrituras é o imperativo da pregação expositiva. Bíblia e somente Bíblia e nada de revelações, supostamente produzidas pelo Espírito Santo!
A pregação fiel é o principal meio de graça da Igreja de Cristo, ou seja, Cristo fala a sua Igreja somente por meio dela, pois, ela é a Palavra de Cristo – Hebreus 1.1; no entendimento presbiteriano a pregação é o “mais excelente meio pelo qual a graça de Deus é comunicada aos homens...”[10]
As nossas experiências espirituais não podem de forma alguma anular a Palavra proclamada de Deus (2 Pedro 1.15-21) , é exatamente isso que nos diz Pedro, ele que teve uma tremenda experiência no monte da Transfiguração, mas não usou esta experiência para sufocar a palavra profética que estava sendo anunciada.
A pregação expositiva quebra toda tradição anti-bíblica; não há meios pelo qual possamos ser pregadores fiéis e mantermos tradições que não tem apoio na Bíblia. Os nossos e credos devem ser analisados a luz da Palavra de Deus. O fundador do presbiterianismo na Inglaterra Thomas Cartwright era um bom Anglicano, todavia, decidiu fazer uma série de pregações expositivas no livro de Atos e descobriu que o governo da Igreja primitiva era o sistema de governo presbiteriano, então, ele rompeu com sua tradição Anglicana e iniciou o presbiterianismo Inglês.[11]
A pregação fiel reconhece que a Escritura é plenamente suficiente em tudo o que afirma, pois, é assim que nos ensina Paulo em 2 Timóteo 3.15-17. A pregação expositiva deve estar compromissada com a verdade da suficiência da Palavra de Deus.

IV – A PREGAÇÃO FIEL RESTAURA O CULTO.

Como saber se a Igreja que freqüentamos é verdadeira? Devemos olhar para o culto! O culto é o reflexo de como tratamos a pregação; ou é o resultado da pregação. A pregação torna o culto o que ela é.
A pregação expositiva é simples. Logo o culto deve ser simples. A pregação expositiva é clara; cada ato litúrgico deve ser claro; a pregação expositiva é bíblica; tudo no culto deve Ter sanção bíblica. A pregação expositiva é prática, então, o culto deve prático; a pregação expositiva visa a glória de Deus e por conseqüência o culto deve manifestar plenamente essa glória de Deus.
A pregação ocupa o lugar central no culto que prestamos a Deus. A reforma litúrgica só torna-se possível se a pregação estiver neste lugar central. Josías nos tempos do Antigo Testamento fez uma reforma radical no culto porque a Lei de Deus fora achada e lida! A Reforma Protestante foi a reforma do culto mediante a Proclamação da Palavra. A palavra reforma o culto.
Calvino ao falar sobre a primazia da pregação no culto, em seu manual eclesiástico, diz que a “pregação da Palavra deveria ser o elemento essencial do culto público e a tarefa primordial e central do ministério pastoral”.[12] E ainda Calvino diz que “Satanás tenta destruir a igreja fazendo desaparecer a pregação Pura.”[13], ele ainda costumava dizer que
“os sinais pelos quais a igreja é reconhecida são a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos, pois estes, onde quer que existam, produzem fruto e prosperam a benção de Deus. Eu não estou dizendo onde quer que a Palavra seja pregada os frutos imediatamente apareçam; mas que onde quer que seja recebida e habite por algum tempo, ela sempre manifesta a sua eficácia”[14]
Então, se desejamos saber se estamos em uma Igreja verdadeira devemos de fato olhar como a pregação afeta o culto! Um culto onde os homens não são reverentes, não ouvem a pregação da Palavra como elemento Central (Veja: Neemias 8), este culto não foi restaurado pela Pregação. E por quê? Porque fala-se da Palavra, mas não se prega ela fielmente! Em muitos cultos a Palavra é usada como apêndice, pois, o Teatro, o coral, a coreografia, as palmas, o conjunto de Louvor tornam-se o centro do culto, remove-se a pregação e coloca-se o entretenimento. A pregação dura apenas alguns minutos, e é tratada de forma subjetiva e a mensagem é triunfalista! “Deus vai mudar sua sorte”, “Deus me revelou que a tua vitória vai chegar”; e assim, eles chamam isso de pregação. Isso não é a pregação que caracteriza a verdadeira Igreja.
A pregação fiel restaura o culto porque coloca Deus no lugar de Deus, e o homem no lugar de homem. Onde o pecado é confrontado, os deveres são exigidos, onde a santidade é exposta, onde o inferno é mostrado, onde a graça é manifestada na proclamação temos uma Igreja verdadeira. O culto verdadeiro é reflexo de uma pregação fiel. A Igreja que ama a pregação expositiva é uma Igreja preparada para enfrentar o mundo; se amamos a pregação expositiva vamos inevitavelmente amar o culto a Deus.

CONCLUSÃO:

Diante do que já temos exposto o que podemos aprender e aplicar para nossas vidas? Que conclusões podemos tirar de tudo isso que falamos?
1. Nunca despreze a Pregação: A história do cristianismo nos alerta para a majestade da pregação e sua glória .
2. Entenda que a Igreja Verdadeira valoriza a Pregação expositiva: Para identificar se aquela Igreja é verdadeira avalie sua pregação, se ela não expõe fielmente os ensinos da Bíblia, saiba que ali não há Igreja alguma.
3. Apegue-se a verdade de que a Igreja Verdadeira está comprometida com a suficiência da Palavra de Deus: Línguas, profecias e revelações ou tradições humanas não podem silenciar a voz do púlpito!
4. Se uma pregação em uma Igreja não restaura o culto, então, ali não temos uma Igreja verdadeira: A Igreja Verdadeira terá a preocupação de que tudo o que for realizado no culto deve ser ordenado, por um mandamento explícito, exemplo histórico e inferência bíblica. A Igreja que está comprometida com a pregação expositiva terá profundo amor para com o culto a Deus e visará somente a glória de Deus!
[1] CHAPELL, Brayan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.17.
[2] Apud, MARCARTHUR, JR, John. Com Vergonha do Evangelho – Quando a Igreja se Torna como o Mundo, São Paulo: FIEL, 2ª edição, 2004, p. 5
[3] STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.15
[4] DARGAN, E.C. History of Preaching, p.7, vol. II In: STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.17.
[5] MÁRTIR, Justino. Primeira Apologia, Cap. 67, In: Ante-nicene Fathers, p.
[6] SCHAFF, Philip (org.). The Nicene and Post-Nicene Fathers, p. 22, vol. 9.
[7] Works of Hugh Latimer, p.59-78, vol, 1.
[8] SMITH, Morton H. Systenatic Theology, Vol. 2, Estados Unidos da América: Greenville Seminary Press, 1994, p.563
[9] CHAPEL, Bryan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.11
[10] ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Pregação Reformada, Pará: 2006, p.66
[11] LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e Suas Oringens, São Paulo: PES, p.23.
[12] MERLE D’AUBIGNÉ, J.H. History of the Reformation in the Time of Calvino, Vol. 7, Albany, Oregon: Ages,1998, 82.
[13] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã, 4.1.2, São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[14] Ibid, 4.1.10.o de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de lavar as pessoas da morte para a vida.”[1]

Nos dias de hoje o sermão é desprezado pela Igreja de Cristo com tanta facilidade que C.H.Spurgeon chgou afirmar o seguinte: “A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor”[2] As palavras de Spurgeon ressoam em nossa época, pois, na verdade tal negligência têm ocorrido em nossos dias, por isso, precisamos encarar este assunto com mais seriedade. Neste breve estudo falaremos sobre a Pregação Fiel como a marca distintiva da verdadeira Igreja.
Pois, a Igreja sem pregação assemelha-se a corpo sem alma, ela não tem vida. Ela tem barulho, choro e gritos – como acontece em um funeral – mas muitos têm atribuído isso ao Espírito Santo, todavia, não percebem que o Espírito age com e por meio da palavra.



I - A HISTÓRIA DA PREGAÇÃO – SUA MAJESTADE E GLÓRIA.

Não podemos falar sobre este assunto sem entendermos como a História da Igreja o encarou, ou seja, como a Igreja viu a questão da pregação fiel da palavra? No texto que lemos Paulo valorizava a pregação oferecendo conotações dramáticas. O que é a pregação? Stott nos diz que é “a ênfase exclusiva do cristianismo”[3].
Por onde começar a nossa peregrinação histórica da pregação? Dargan nos indica que tal procura deve ser vista no próprio cristo, pois, o “Fundador do cristianismo, pessoalmente, foi o primeiro dos seus pregadores...”[4] os evangelhos apresentam cristo como indo e “proclamando as boas-novas de Deus” (Mc.1.14; 1.39; Mt.4.17; 4.23; 9.35).
Somos informados pelas Escrituras que os apóstolos davam prioridade à pregação da Palavra em Atos 6.4.
Os pais apostólicos insistiram nesta mesma temática – a pregação fiel da palavra – conforme vemos no relato de Justino Mártir:

E no dia chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior reúnem-se juntos num só lugar, são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, por tanto tempo quanto possível; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente, e exorta à imitação dessas coisas virtuosas. Em seguida, todos nos colocamos de pé e oramos e, conforme dissemos antes, ao terminarem as nossas orações são trazidos pão, vinho e água, e o presidente, de modo semelhante, oferece orações e ações de graças, segundo a sua capacidade, e o povo concorda dizendo amém.[5]

Outro pai apostólico chamado Tertuliano diz basicamente a mesma verdade sobre a pregação da palavra no dia do Senhor. Mas, penso que não existe pregador mais proeminente na história da Igreja do que o João Chryssostomos – conhecido como o Boca de Ouro – bispo na Igreja Grega; os historiadores dizem que pregação de Chryssostomos possuía quatro características basilares que veio a tornar-se padrão para a pregação fiel;
1. Era uma pregação Bíblica.
2. Interpretação simples e direta.
3. Aplicação prática.
4. Era destemida em suas colocações.

Na realidade ele “era mártir do púlpito, pois foi principalmente sua pregação fiel que provocou o seu exílio”[6]. No período dos reformadores e dos puritanos a pregação recebeu tamanha importância, a ponto de o bispo Latimer dizer: “A Palavra de Deus é semente para ser lançada no campo de Deus” e “o pregador é o semeador”, o título deste sermão era “Mão no Arado”, durante um momento de sua pregação Latimer , faz uma pergunta inusitada: “Quem é o bispo e prelado mais diligente em toda a Inglaterra, que supera todos os demais no exercício do seu cargo? ...Vocês querem saber quem é? – é o Diabo. É ele o pregador mais diligente entre todos dos demais”, ele prosseguiu:
Nunca está ausente da sua diocese; nunca está longe de sua comunidade eclesiástica; você nunca o achará desocupado; sempre está na sua paróquia; mantém resistência a todo tempo; você nunca o achará indisponível... Onde o Diabo está em residência e está com seu arado em andamento, ali: fora os livros e vivam as velas!; fora as Bíblias e vivam os rosários!; fora a luz do evangelho e viva a luz das velas – até mesmo ao meio-dia!; [...] vivam as tradições e as leis dos homens!; abaixo as tradições de Deus e sua santíssima Palavra! [...] portanto vocês, prelados que não pregam, aprendam com o Diabo: a serem diligentes no exercício do seu cargo [...] Se vocês não quiseram aprender de Deus, nem de homens bons, a serem diligentes no cargo, aprendam do Diabo.[7]
Ou seja, se somos preguiçosos para estudarmos a Palavra de Deus para aplicar, pregar e defendê-la, se não pregamos e expomos a Palavra de Deus aos homens somos inimigos da causa do evangelho. E a pregação é o único veículo pelo qual o mundo pode encontrar salvação.
Então, pregue a Palavra, pois, a pregação continua sendo majestosa e é nosso dever pregar com autoridade singular sem reservas, sem medo, e crendo que Deus tem usado este método para salvar pecadores como declarou Paulo no texto que citamos acima.

II – A PREGAÇÃO FIEL É AQUELA QUE EXPÕE O TEXTO.

Algumas pessoas dizem que tudo o que vemos na Igreja nos Domingos à noite deve ser caracterizado como pregação; todavia, a autêntica pregação é aquela que expõe o texto, conhecida como pregação expositiva. Ela deve ser uma prática na vida daqueles que sobem ao púlpito; temos visto que, muitos preferem pregar temática ou topicamente. Por que? Bem, porque é mais fácil pregar em cima de um tema; geralmente os teólogos sistemáticos pregam desta forma; trabalham temas na Igreja no Domingo à noite – não estou dizendo que a pregação não deva Ter um tema – o que estou dizendo é que o texto não pode ser exposto com a pressuposição doutrinária que se deve abordar.
Deixe-me explicar: Imagine que você quer pregar sobre a trindade. Então, lança mão do texto de Gênesis 1.1 para fundamentar a doutrina; a primeira pergunta a ser feita é: Moisés estava pensando na Trindade quando escreveu este texto, especialmente no uso do substantivo plural elohim? E se formos sinceros diremos que não, logo o texto não serve, mas isso anula a doutrina? Não. Agora você prepara um estudo sobre o assunto, e começa com João 14.23 – “viremos e faremos nele morada” cristo está falando de uma Trindade? Sim. Então eu posso agora compreender Gênesis 1.1 – ali vejo, pelo escopo de toda a revelação, a forma embrionária da Trindade.
A pregação expositiva ela se concentra apenas no texto que é lido. Por que é tão difícil pregar expositivamente? Porque exige mais do pregador:

1. Exige conhecimento histórico: o contexto da passagem deve ser levado em consideração.
2. Exige conhecimento do texto original e de sua gramática
3. Exige conhecimentos de exegese e hermenêutica.
4. Exige muita leitura – manuais de exegese, manuais de interpretação, comentários bíblicos.
5. Exige conhecimento dos sistemas doutrinários: credos, confissões, teologias sistemáticas.

A Igreja sempre pregou expositivamente? Esta é uma grande pergunta. A resposta é afirmativa, pois vemos isso no dia de Pentecostes que o sermão de Pedro foi expositivo, veja como está estruturado o sermão:
I – Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus.
ü Em Sua vida
ü Em Sua morte
ü Em Sua Ressurreição
ü Em Sua ascensão aos Céus.
II - Jesus recebeu o Espírito santo e derramou o que vocês vêem e ouvem .

III – Deus fez a este Jesus, Que vocês crucificaram, Senhor e Cristo.

IV – Aplicação
1. Arrependam-se
2. Sejam batizados em o nome de Jesus Cristo.
V – Promessas:

1. Remissão dos pecados
2. Dom do Espírito Santo
3. Inclusão dos Filhos
4. E muitos que estão longe, tantos quantos o nosso Deus chamar.[8]

Outro texto neotestamentário que nos apresenta uma pregação expositiva é Atos 7 – conhecido como o sermão de Estevão. Este tipo de sermão sempre esteve presente na vida da Igreja desde os seus primórdios, o sermão do monte que Cristo proferiu é expositivo.
Por que pregar expositivamente? Penso que a pregação expositiva nos oferece algumas verdades fundamentais:

1. Restaura a pregação da crise.
2. Anula os métodos subjetivistas ( místicos )
3. Restaura a autoridade da Bíblia
4. Restaura a vida da Igreja.

Estas quatros realidades são manifestadas quando pregamos expositivamente. Isso implica em algumas coisas. Primeiro, nos mostra que a crise na pregação de hoje é o resultado da nossa negligência, pois, não estamos pregando a Bíblia fielmente. Esquecemos do que Paulo nos diz em 1 Coríntios 4.1-2 nossa pregação deve ser fiel; em segundo lugar, os métodos subjetivos deve ser rejeitados quando pregamos expositivamente a palavra, um exemplo disso, é o uso que muitos fazem de João 14.6, e dizem que vêem ali três coisas: Caminho – indica a lei de Deus.
Verdade - Indica que o mundo é uma mentira
Vida – indica a Pessoa de Cristo.
Esta abordagem do texto é subjetiva, e ignora a exegese do texto. Jesus não está dizendo três coisas distintas, mas ele está usando uma figura chamada Tríade Sinonímica. Isto quer dizer que Cristo estava dizendo uma única coisa: Eu sou o caminho vivo e verdadeiro. Então não adiante pegar este texto para fazer uma pregação de três pontos!
Quando pregamos expositivamente restauramos a autoridade da Bíblia, estamos dizendo ao nosso povo que todas as nossas idéias derivam da Bíblia. Ou seja, a pregação expositiva diz que a Bíblia continua sendo o padrão absoluto em um mundo pós-moderno. Por que dizemos isso? É porque sabemos que nem “todas as respostas que a igreja proporciona por meio dos seus pregadores proclamam boas-novas. Algumas simplesmente abandonaram toda esperança de encontrar uma fonte da verdade que tenha autoridade.” A Bíblia se torna o centro do culto e da vida do crente quando é confrontado expositivamente pelo texto sagrado no Domingo à noite. “Tal pregação apresenta a voz de autoridade que não procede do homem e assegura respostas não sujeitas a fantasias culturais”.[9] A Bíblia recebe plenamente a autoridade quando pregamos fielmente as Escrituras.
A pregação expositiva também oferece vida para a Igreja. A lei de Deus quando é ensinada oferece vida e vivifica a alma (Sal. 119.25; João 6.68). A pregação é a palavra de Cristo à Igreja; é nosso dever pregar expondo a Bíblia.

III – A PREGAÇÃO FIEL ESTÁ COMPROMISSADA COM A SUFICIÊNCIA DA BÍBLIA COMO PALAVRA DE DEUS.

Como identificar uma Igreja verdadeira? Bem, temos visto que a pregação fiel da palavra é a principal marca de um Igreja verdadeira. Não é qualquer pregação, note é a pregação fiel. Ou seja, ela deve ser fiel a revelação de Deus. Isso nos leva para o principio da Reforma chamado de Sola Scriptura ( somente as Escrituras ).
Todo sermão deve refletir a crença incontestável de que a Bíblia é a única fonte de autoridade na vida da Igreja. Os que não crêem assim podem até pregar, mas não são pregadores fiéis a Bíblia, e assim, a Igreja que pastoreiam não pode ser classificada como Igreja verdadeira.
O que estamos querendo dizer é que a pregação expositiva condena toda prática e doutrina que suplanta as Escrituras por meio de novas revelações ou tradições humanas. O “assim diz o SENHOR” das Escrituras é o imperativo da pregação expositiva. Bíblia e somente Bíblia e nada de revelações, supostamente produzidas pelo Espírito Santo!
A pregação fiel é o principal meio de graça da Igreja de Cristo, ou seja, Cristo fala a sua Igreja somente por meio dela, pois, ela é a Palavra de Cristo – Hebreus 1.1; no entendimento presbiteriano a pregação é o “mais excelente meio pelo qual a graça de Deus é comunicada aos homens...”[10]
As nossas experiências espirituais não podem de forma alguma anular a Palavra proclamada de Deus (2 Pedro 1.15-21) , é exatamente isso que nos diz Pedro, ele que teve uma tremenda experiência no monte da Transfiguração, mas não usou esta experiência para sufocar a palavra profética que estava sendo anunciada.
A pregação expositiva quebra toda tradição anti-bíblica; não há meios pelo qual possamos ser pregadores fiéis e mantermos tradições que não tem apoio na Bíblia. Os nossos e credos devem ser analisados a luz da Palavra de Deus. O fundador do presbiterianismo na Inglaterra Thomas Cartwright era um bom Anglicano, todavia, decidiu fazer uma série de pregações expositivas no livro de Atos e descobriu que o governo da Igreja primitiva era o sistema de governo presbiteriano, então, ele rompeu com sua tradição Anglicana e iniciou o presbiterianismo Inglês.[11]
A pregação fiel reconhece que a Escritura é plenamente suficiente em tudo o que afirma, pois, é assim que nos ensina Paulo em 2 Timóteo 3.15-17. A pregação expositiva deve estar compromissada com a verdade da suficiência da Palavra de Deus.

IV – A PREGAÇÃO FIEL RESTAURA O CULTO.

Como saber se a Igreja que freqüentamos é verdadeira? Devemos olhar para o culto! O culto é o reflexo de como tratamos a pregação; ou é o resultado da pregação. A pregação torna o culto o que ela é.
A pregação expositiva é simples. Logo o culto deve ser simples. A pregação expositiva é clara; cada ato litúrgico deve ser claro; a pregação expositiva é bíblica; tudo no culto deve Ter sanção bíblica. A pregação expositiva é prática, então, o culto deve prático; a pregação expositiva visa a glória de Deus e por conseqüência o culto deve manifestar plenamente essa glória de Deus.
A pregação ocupa o lugar central no culto que prestamos a Deus. A reforma litúrgica só torna-se possível se a pregação estiver neste lugar central. Josías nos tempos do Antigo Testamento fez uma reforma radical no culto porque a Lei de Deus fora achada e lida! A Reforma Protestante foi a reforma do culto mediante a Proclamação da Palavra. A palavra reforma o culto.
Calvino ao falar sobre a primazia da pregação no culto, em seu manual eclesiástico, diz que a “pregação da Palavra deveria ser o elemento essencial do culto público e a tarefa primordial e central do ministério pastoral”.[12] E ainda Calvino diz que “Satanás tenta destruir a igreja fazendo desaparecer a pregação Pura.”[13], ele ainda costumava dizer que
“os sinais pelos quais a igreja é reconhecida são a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos, pois estes, onde quer que existam, produzem fruto e prosperam a benção de Deus. Eu não estou dizendo onde quer que a Palavra seja pregada os frutos imediatamente apareçam; mas que onde quer que seja recebida e habite por algum tempo, ela sempre manifesta a sua eficácia”[14]
Então, se desejamos saber se estamos em uma Igreja verdadeira devemos de fato olhar como a pregação afeta o culto! Um culto onde os homens não são reverentes, não ouvem a pregação da Palavra como elemento Central (Veja: Neemias 8), este culto não foi restaurado pela Pregação. E por quê? Porque fala-se da Palavra, mas não se prega ela fielmente! Em muitos cultos a Palavra é usada como apêndice, pois, o Teatro, o coral, a coreografia, as palmas, o conjunto de Louvor tornam-se o centro do culto, remove-se a pregação e coloca-se o entretenimento. A pregação dura apenas alguns minutos, e é tratada de forma subjetiva e a mensagem é triunfalista! “Deus vai mudar sua sorte”, “Deus me revelou que a tua vitória vai chegar”; e assim, eles chamam isso de pregação. Isso não é a pregação que caracteriza a verdadeira Igreja.
A pregação fiel restaura o culto porque coloca Deus no lugar de Deus, e o homem no lugar de homem. Onde o pecado é confrontado, os deveres são exigidos, onde a santidade é exposta, onde o inferno é mostrado, onde a graça é manifestada na proclamação temos uma Igreja verdadeira. O culto verdadeiro é reflexo de uma pregação fiel. A Igreja que ama a pregação expositiva é uma Igreja preparada para enfrentar o mundo; se amamos a pregação expositiva vamos inevitavelmente amar o culto a Deus.

CONCLUSÃO:

Diante do que já temos exposto o que podemos aprender e aplicar para nossas vidas? Que conclusões podemos tirar de tudo isso que falamos?
1. Nunca despreze a Pregação: A história do cristianismo nos alerta para a majestade da pregação e sua glória .
2. Entenda que a Igreja Verdadeira valoriza a Pregação expositiva: Para identificar se aquela Igreja é verdadeira avalie sua pregação, se ela não expõe fielmente os ensinos da Bíblia, saiba que ali não há Igreja alguma.
3. Apegue-se a verdade de que a Igreja Verdadeira está comprometida com a suficiência da Palavra de Deus: Línguas, profecias e revelações ou tradições humanas não podem silenciar a voz do púlpito!
4. Se uma pregação em uma Igreja não restaura o culto, então, ali não temos uma Igreja verdadeira: A Igreja Verdadeira terá a preocupação de que tudo o que for realizado no culto deve ser ordenado, por um mandamento explícito, exemplo histórico e inferência bíblica. A Igreja que está comprometida com a pregação expositiva terá profundo amor para com o culto a Deus e visará somente a glória de Deus!
[1] CHAPELL, Brayan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.17.
[2] Apud, MARCARTHUR, JR, John. Com Vergonha do Evangelho – Quando a Igreja se Torna como o Mundo, São Paulo: FIEL, 2ª edição, 2004, p. 5
[3] STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.15
[4] DARGAN, E.C. History of Preaching, p.7, vol. II In: STOTT, John. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.17.
[5] MÁRTIR, Justino. Primeira Apologia, Cap. 67, In: Ante-nicene Fathers, p.
[6] SCHAFF, Philip (org.). The Nicene and Post-Nicene Fathers, p. 22, vol. 9.
[7] Works of Hugh Latimer, p.59-78, vol, 1.
[8] SMITH, Morton H. Systenatic Theology, Vol. 2, Estados Unidos da América: Greenville Seminary Press, 1994, p.563
[9] CHAPEL, Bryan. Pregação Cristocêntrica – Restaurando o sermão expositivo: Um guia prático e teológico para a pregação bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 1ªEdição, 2002,p.11
[10] ANGLADA, Paulo R.B. Introdução à Pregação Reformada, Pará: 2006, p.66
[11] LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e Suas Oringens, São Paulo: PES, p.23.
[12] MERLE D’AUBIGNÉ, J.H. History of the Reformation in the Time of Calvino, Vol. 7, Albany, Oregon: Ages,1998, 82.
[13] CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã, 4.1.2, São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[14] Ibid, 4.1.10.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A Luz da Reforma!

Há um grande interesse crescente em nosso país pelas doutrinas da Reforma, por isso, este blog surge para mostrar que a Reforma Calvinista e Presbiterina é amplamente o resultado de uma proclamação.
Qual proclamação? A proclamação de que existe um Deus que é Soberano neste mundo. Precisamos resgatar a compreensão de que apenas um Deus Soberano pode ser adorado. Somente a Deus seja a glória!
Este blog surge para nos oferecer uma resposta a tudo o que somos e temos! Nada somos diante da santidade de Deus (Is.6.5) e temos Deus como tudo que há para nos mostrar que a sua graça é infinita neste mundo.