TEOLOGIA BÍBLICA EM FOCO:
A MISSÃO DA IGREJA NESTE MUNDO – UMA ABORDAGEM DE ATOS. 1.8.
Por: João Ricardo Ferreira de França[1].
Texto Grego: “alla lêmpsesthe dynamin épelthontos tou hagiou pneumátos eph hymas kai esesthé mou martyres en te Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”[2]
“ Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”
O texto que temos diante de nós é significativo, pois, nos oferece profundas verdades a respeito do evangelho de Cristo, mas especialmente a respeito da Igreja Primitiva.
Todos nós estamos cientes de que este texto foi escrito para descreve a expansão da Igreja durante os seus 30 primeiros anos após a elevação de Cristo aos céus.
Este texto está dentro do contexto da ascensão de Cristo como já afirmamos. Na verdade ele consiste no plano de ação da Igreja no que diz respeito a evangelização e a relação do Espírito Santo com a mesma.
Nos versículos anteriores que nós consideramos como contexto imediato anterior temos os ensinamentos finais de Cristo, todavia, o mestre é interrompido por uma questão escatológica: “Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”(Atos.1.6).
É percebido no texto um contraste entre o ensinamento de Cristo “concernente ao Reino de Deus”(vs.3) e o “reino de Israel”, esse contraste mostra-nos perspectivas diferentes quanto ao que era de fato a função da Igreja. Como se faria presente o reino Deus? Se evidenciaria “pela promessa da vinda do Espírito Santo”(vs.4). Mas, os discípulos não estavam muito interessados na perspectiva do reino de Deus, que era apresentada por Cristo, eles queriam apenas a questão de uma libertação do domínio romano que estava no cenário naquele momento.
Qual é a resposta de Cristo a esta questão escatológica? Cristo responde de maneira satisfatória a esta indagação ao dizer: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.”(vs 7). Cristo diz que não era da competência deles especularem quando haveria de se estabelecer o reino de forma plena, isto porque o Reino estava na proclamação Kerygmática (pregação) de Cristo e na promessa da chegada do Espírito Santo. Este é o ponto que temos diante de nós. Pois, não é o esforço humano que vai trazer a plena manifestação do Reino – mas o próprio poder de Deus! – aqui fica claro pelas palavras de Cristo. Também vemos que não se trata de uma manifestação do reino unicamente visível aos olhos, mas de algo que já estava presente entre eles.
Então, Cristo volta-se e diz: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”(vs.8).
Ele começa colocando-nos uma oposição, ou melhor, um contraste com aquilo que estava sendo dito pelos discípulos, ele diz: “mas” esta palavra é uma conjunção adversativa; e no texto grego “alla.” é usada para expressar algo com intensidade, enfatizar, chamar a atenção. Cristo está dizendo que eles deveriam deixar de pensar escatologicamente concernente a um reino futuro e visível.; Pois, o esforço o humano não traria este reino de forma automática. A função da Igreja é proclamar a mensagem do Reino e não especular quando o reino será plenamente manifestado. Agora por que Cristo usa este contraste? A resposta está no fato de que a Igreja deveria receber uma capacitação específica para poder proclamar o Reino de Deus.
O nosso texto diz: “Recebereis” este verbo no texto grego é “lêmpsesthe”ele é um verbo defectivo, pois, está na voz média depoente, ou seja, é um verbo que tem a forma passiva, todavia, o sentido é ativo; o modo é indicativo e o tempo é futuro. O modo indicativo aponto para a certeza do recebimento. Eles de fato são assegurados disso, e o futuro indica que não é uma mera conjectura, mas expressa que isso de fato ocorrerá.
A questão diz respeito o conteúdo deste recebimento que é o “Poder”. A palavra que encontramos aqui é um substantivo no caso acusativo feminino singular, este termo no grego “dynamin” possui uma série de significados tais como ‘força’, ‘habilidade’, capacitação’. Como entender o termo aqui neste texto? Pensamos que a palavra deve ser compreendida no sentido de “habilitação’ ou ‘capacitação’. É um poder que capacita ou que habilita.
Mas, quando vem tal poder capacitador? Em que momento a Igreja experimentaria tal poder? O texto nos diz que é quando “descer sobre” aqui Lucas usa um particípio grego “épelthontos”. Sabemos que o particípio refere-se a uma ação passada com resultados duradouros; no caso em apreço nós temos um verbo no particípio aoristo que indica uma ação passada de forma completa e única – não repetida – ou seja, Lucas diz que a Igreja receberia tal poder depois de algo “descer sobre ela”, uma melhor tradução que expressaria adequadamente o sentido deste particípio seria “tendo descido sobre”, mas a idéia é de vir sobre; ou mesmo de derramar.
A questão é: o que seria “derramado” ou que “viria sobre” a Igreja? A resposta vem posteriormente, diz o texto “tendo descido o Santo Espírito”. Note que não é o poder que é derramado, mas o Espírito que gera o poder é que é derramado. Notemos que este Espírito é adjetivado como sendo santo. O atributo de santidade do Espírito não é negligenciado pelo Texto, refere-se que este poder que a Igreja receberia não seria corrompido, mas santo, pois, sua fonte é o Espírito Santo de Deus.
A Igreja não é marcada por um poder que não produz santidade, mas antes de tudo é necessário que o poder da Igreja reflita a santidade inerente ao doador de tal poder – O Espírito Santo de Deus. Crer que a Igreja é Santa significa acreditar que o poder da instituição ekklesia é santo; isto tem sua razão pela capacitação e santificação do Espírito na vida da Igreja.
A Igreja não é santa em si mesma. Ela é santa porque é a habitação do Espírito Santo, outro aspecto teológico disso é que o Espírito Santo vem graciosamente habitar na Igreja. Ele é derramado sobre a Igreja conferindo a ele um poder sem igual neste mundo, um poder que somente ela tem e nenhuma outra instituição pode ter tal poder que é conferido à Igreja, nenhum Simão pode comprar tal doação divina!
Mas, sobre que vem o Espírito Santo? Sobre todos os homens? Não. O Espírito vem sobre o povo do pacto – este povo chamado Igreja – sobre ninguém mais, pois, o lugar de habitação do Espírito Santo. O Espírito seria derramado abundantemente sobre a Igreja neotestamentária “eph hymas”- sobre vós – Cristo particulariza a habitação do Espírito, assim como a redenção é particular, os efeitos e a aplicação da mesma redenção devem ser particulares. O mundo não pode receber o Espírito Santo, pois não vive no momento escatológico da ressurreição e ascensão de Cristo aos céus, e nem muito menos tem a esperança, esta outorgada pelo Espírito, da volta de Cristo[3]. O Espírito deve habitar naqueles que são alvos da morte redentora de Cristo. Isto significa que a habitação do Espírito é para os eleitos de Deus – “sobre vós” ele virá diz Cristo aos seus discípulos.
Com qual finalidade o Espírito seria derramado na vida da Igreja? Qual é a conseqüência disso na vida da Igreja? A conseqüência é que a Igreja seria transformada em proclamadora de Cristo ao mundo. O Espírito Santo habita na Igreja para fazê-la uma testemunha da obra de Cristo aos homens.
Cristo diz: “sereis minhas testemunhas” o autor do livro usa o verbo “esesthé,” que é um indicativo futuro na Segunda pessoa do plural. Nos chama atenção o modo como este verbo está sendo o usado – ele está no indicativo – o modo indicativo aponta para um fato concreto, ou seja de fato vocês serão minhas “testemunhas”. O uso do pronome possessivo aqui “minhas” - mou– indica-nos que Cristo continua sendo o Senhor da Igreja e que exige dela o não silenciar-se diante do mundo. O senhorio de Cristo é manifestado mesmo quando somos vocacionados a proclamar o evangelho, pois, sempre estaremos proclamando a Palavra de Cristo e não a nossa. A Igreja foi transformada e capacitada a ser “testemunha” o termo grego aqui “martyres” significa mais que pregar o evangelho com a voz, pois, o termo é usado para aquele que é martirizado por causa do evangelho. Ou seja, na vida e na morte a Igreja deve testemunhar de Cristo ao longo dos tempos. Cristo deve ser visto na pregação e na vida da Igreja – esta foi a capacitação que a Igreja recebeu do Espírito Santo.
Nós não apenas temos diante de nós os ensinos, no que diz respeito ao papel do Espírito Santo sobre o determinado aspecto do capacitar que este derramar envolve a Igreja de Cristo, mas temos também o plano de ação missiológica oferecido por Cristo a sua Igreja.
Cristo não apenas nos promete a capacitação adequada, que é manifestada pelo Espírito Santo, mas também ele nos indica o caminho por onde a Igreja deve trilhar, por onde a Igreja deve agir. Ele diz: “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
Alguém poderia dizer, Cristo tudo bem nós iremos receber este poder para testemunhar, mas por onde devemos começar? Onde está o nosso campo de ação? Parece muitos seminaristas e pastores indagando a Deus. A resposta de Cristo é simples: “Em todos os lugares onde ninguém tenha ouvido falar de mim”. Este é o ponto. Aqui não há uma seqüência cronológica como muitos têm proposto, mas a ação aqui deve ser vista como simultânea. Isso pelo uso maciço que é feito das conjunções no texto: “en tê Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”.
O foco é Jerusalém deve-se começar aqui, ou melhor, o testemunho iniciará por ali. O pentecostes é uma prova cabal disso. Começa com os que estão tão próximos é o primeiro passo missiológico da Igreja, mas não esquecer os que estão um pouco distantes “Judéia”, pois, eles também precisam do mesmo Cristo e do mesmo evangelho, não se deve concentrar-se em apenas um lugar, mas em todos, inclusive entre aqueles que não julgamos ser merecedores do evangelho “Samaria” – mas a missão ela só é completada quando o útimo da terra for alvo desta evangelização, isto indica que a disposição da Igreja é proclamar o evangelho a toda a criatura segundo as ordens de Cristo. Diante disso que verdades podemos aplicar as nossas vidas sobre estas questões levantadas?
1. Compreender que a Igreja se manifesta pela finalidade com qual Deus a estabeleceu.
2. Compreender Que Deus capacita a Igreja para cumprir os seus propósitos redentivos.
3. Aplicar a verdade de que a nossa Eclesiologia é definida pela ação soberana do Espírito Santo sobre a nossa vida.
4. Viver a realidade de que não podemos transferir a nossa responsabilidade missiológica, pois, a Igreja foi capacitada para proclamar o evangelho, isto significa que não deveríamos nos apoiar nas muletas das agências missionárias, transferindo para outros o que é de inteira responsabilidade da Igreja.
5. Confiar que apenas Deus nos indica o campo, isto também mostra que apenas ele produz os resultados da Igreja, ou seja, a nós não foi dada a tarefa de produzir corações que adorem ao Senhor, mas nos foi confiada a palavra da reconciliação para ser proclamada.
[1] O autor é Membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atualmente está bacharelando em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) e lidera uma Congregação Presbiteriana em Prazeres – End. Rua 1 ao lado do Supermercado Arco-íris.
[2] Esta é uma transliteração: significa que os termos gregos foram substituídos pelos seus equivalentes em português para que leitor saiba o que se está lendo.
[3] Estou pensando como teólogo bíblico, mas não estou negando que haja alguma operação do Espírito na vida daqueles que não são crentes, pois, sabemos que a doutrina da Graça comum diz respeito a essa operação do Espírito na vida dos não eleitos.
A MISSÃO DA IGREJA NESTE MUNDO – UMA ABORDAGEM DE ATOS. 1.8.
Por: João Ricardo Ferreira de França[1].
Texto Grego: “alla lêmpsesthe dynamin épelthontos tou hagiou pneumátos eph hymas kai esesthé mou martyres en te Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”[2]
“ Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”
O texto que temos diante de nós é significativo, pois, nos oferece profundas verdades a respeito do evangelho de Cristo, mas especialmente a respeito da Igreja Primitiva.
Todos nós estamos cientes de que este texto foi escrito para descreve a expansão da Igreja durante os seus 30 primeiros anos após a elevação de Cristo aos céus.
Este texto está dentro do contexto da ascensão de Cristo como já afirmamos. Na verdade ele consiste no plano de ação da Igreja no que diz respeito a evangelização e a relação do Espírito Santo com a mesma.
Nos versículos anteriores que nós consideramos como contexto imediato anterior temos os ensinamentos finais de Cristo, todavia, o mestre é interrompido por uma questão escatológica: “Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”(Atos.1.6).
É percebido no texto um contraste entre o ensinamento de Cristo “concernente ao Reino de Deus”(vs.3) e o “reino de Israel”, esse contraste mostra-nos perspectivas diferentes quanto ao que era de fato a função da Igreja. Como se faria presente o reino Deus? Se evidenciaria “pela promessa da vinda do Espírito Santo”(vs.4). Mas, os discípulos não estavam muito interessados na perspectiva do reino de Deus, que era apresentada por Cristo, eles queriam apenas a questão de uma libertação do domínio romano que estava no cenário naquele momento.
Qual é a resposta de Cristo a esta questão escatológica? Cristo responde de maneira satisfatória a esta indagação ao dizer: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.”(vs 7). Cristo diz que não era da competência deles especularem quando haveria de se estabelecer o reino de forma plena, isto porque o Reino estava na proclamação Kerygmática (pregação) de Cristo e na promessa da chegada do Espírito Santo. Este é o ponto que temos diante de nós. Pois, não é o esforço humano que vai trazer a plena manifestação do Reino – mas o próprio poder de Deus! – aqui fica claro pelas palavras de Cristo. Também vemos que não se trata de uma manifestação do reino unicamente visível aos olhos, mas de algo que já estava presente entre eles.
Então, Cristo volta-se e diz: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”(vs.8).
Ele começa colocando-nos uma oposição, ou melhor, um contraste com aquilo que estava sendo dito pelos discípulos, ele diz: “mas” esta palavra é uma conjunção adversativa; e no texto grego “alla.” é usada para expressar algo com intensidade, enfatizar, chamar a atenção. Cristo está dizendo que eles deveriam deixar de pensar escatologicamente concernente a um reino futuro e visível.; Pois, o esforço o humano não traria este reino de forma automática. A função da Igreja é proclamar a mensagem do Reino e não especular quando o reino será plenamente manifestado. Agora por que Cristo usa este contraste? A resposta está no fato de que a Igreja deveria receber uma capacitação específica para poder proclamar o Reino de Deus.
O nosso texto diz: “Recebereis” este verbo no texto grego é “lêmpsesthe”ele é um verbo defectivo, pois, está na voz média depoente, ou seja, é um verbo que tem a forma passiva, todavia, o sentido é ativo; o modo é indicativo e o tempo é futuro. O modo indicativo aponto para a certeza do recebimento. Eles de fato são assegurados disso, e o futuro indica que não é uma mera conjectura, mas expressa que isso de fato ocorrerá.
A questão diz respeito o conteúdo deste recebimento que é o “Poder”. A palavra que encontramos aqui é um substantivo no caso acusativo feminino singular, este termo no grego “dynamin” possui uma série de significados tais como ‘força’, ‘habilidade’, capacitação’. Como entender o termo aqui neste texto? Pensamos que a palavra deve ser compreendida no sentido de “habilitação’ ou ‘capacitação’. É um poder que capacita ou que habilita.
Mas, quando vem tal poder capacitador? Em que momento a Igreja experimentaria tal poder? O texto nos diz que é quando “descer sobre” aqui Lucas usa um particípio grego “épelthontos”. Sabemos que o particípio refere-se a uma ação passada com resultados duradouros; no caso em apreço nós temos um verbo no particípio aoristo que indica uma ação passada de forma completa e única – não repetida – ou seja, Lucas diz que a Igreja receberia tal poder depois de algo “descer sobre ela”, uma melhor tradução que expressaria adequadamente o sentido deste particípio seria “tendo descido sobre”, mas a idéia é de vir sobre; ou mesmo de derramar.
A questão é: o que seria “derramado” ou que “viria sobre” a Igreja? A resposta vem posteriormente, diz o texto “tendo descido o Santo Espírito”. Note que não é o poder que é derramado, mas o Espírito que gera o poder é que é derramado. Notemos que este Espírito é adjetivado como sendo santo. O atributo de santidade do Espírito não é negligenciado pelo Texto, refere-se que este poder que a Igreja receberia não seria corrompido, mas santo, pois, sua fonte é o Espírito Santo de Deus.
A Igreja não é marcada por um poder que não produz santidade, mas antes de tudo é necessário que o poder da Igreja reflita a santidade inerente ao doador de tal poder – O Espírito Santo de Deus. Crer que a Igreja é Santa significa acreditar que o poder da instituição ekklesia é santo; isto tem sua razão pela capacitação e santificação do Espírito na vida da Igreja.
A Igreja não é santa em si mesma. Ela é santa porque é a habitação do Espírito Santo, outro aspecto teológico disso é que o Espírito Santo vem graciosamente habitar na Igreja. Ele é derramado sobre a Igreja conferindo a ele um poder sem igual neste mundo, um poder que somente ela tem e nenhuma outra instituição pode ter tal poder que é conferido à Igreja, nenhum Simão pode comprar tal doação divina!
Mas, sobre que vem o Espírito Santo? Sobre todos os homens? Não. O Espírito vem sobre o povo do pacto – este povo chamado Igreja – sobre ninguém mais, pois, o lugar de habitação do Espírito Santo. O Espírito seria derramado abundantemente sobre a Igreja neotestamentária “eph hymas”- sobre vós – Cristo particulariza a habitação do Espírito, assim como a redenção é particular, os efeitos e a aplicação da mesma redenção devem ser particulares. O mundo não pode receber o Espírito Santo, pois não vive no momento escatológico da ressurreição e ascensão de Cristo aos céus, e nem muito menos tem a esperança, esta outorgada pelo Espírito, da volta de Cristo[3]. O Espírito deve habitar naqueles que são alvos da morte redentora de Cristo. Isto significa que a habitação do Espírito é para os eleitos de Deus – “sobre vós” ele virá diz Cristo aos seus discípulos.
Com qual finalidade o Espírito seria derramado na vida da Igreja? Qual é a conseqüência disso na vida da Igreja? A conseqüência é que a Igreja seria transformada em proclamadora de Cristo ao mundo. O Espírito Santo habita na Igreja para fazê-la uma testemunha da obra de Cristo aos homens.
Cristo diz: “sereis minhas testemunhas” o autor do livro usa o verbo “esesthé,” que é um indicativo futuro na Segunda pessoa do plural. Nos chama atenção o modo como este verbo está sendo o usado – ele está no indicativo – o modo indicativo aponta para um fato concreto, ou seja de fato vocês serão minhas “testemunhas”. O uso do pronome possessivo aqui “minhas” - mou– indica-nos que Cristo continua sendo o Senhor da Igreja e que exige dela o não silenciar-se diante do mundo. O senhorio de Cristo é manifestado mesmo quando somos vocacionados a proclamar o evangelho, pois, sempre estaremos proclamando a Palavra de Cristo e não a nossa. A Igreja foi transformada e capacitada a ser “testemunha” o termo grego aqui “martyres” significa mais que pregar o evangelho com a voz, pois, o termo é usado para aquele que é martirizado por causa do evangelho. Ou seja, na vida e na morte a Igreja deve testemunhar de Cristo ao longo dos tempos. Cristo deve ser visto na pregação e na vida da Igreja – esta foi a capacitação que a Igreja recebeu do Espírito Santo.
Nós não apenas temos diante de nós os ensinos, no que diz respeito ao papel do Espírito Santo sobre o determinado aspecto do capacitar que este derramar envolve a Igreja de Cristo, mas temos também o plano de ação missiológica oferecido por Cristo a sua Igreja.
Cristo não apenas nos promete a capacitação adequada, que é manifestada pelo Espírito Santo, mas também ele nos indica o caminho por onde a Igreja deve trilhar, por onde a Igreja deve agir. Ele diz: “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
Alguém poderia dizer, Cristo tudo bem nós iremos receber este poder para testemunhar, mas por onde devemos começar? Onde está o nosso campo de ação? Parece muitos seminaristas e pastores indagando a Deus. A resposta de Cristo é simples: “Em todos os lugares onde ninguém tenha ouvido falar de mim”. Este é o ponto. Aqui não há uma seqüência cronológica como muitos têm proposto, mas a ação aqui deve ser vista como simultânea. Isso pelo uso maciço que é feito das conjunções no texto: “en tê Ierousalêm kai [en] pasê tê Ioudaía kai Samareía kai hôs eschátou tês gês”.
O foco é Jerusalém deve-se começar aqui, ou melhor, o testemunho iniciará por ali. O pentecostes é uma prova cabal disso. Começa com os que estão tão próximos é o primeiro passo missiológico da Igreja, mas não esquecer os que estão um pouco distantes “Judéia”, pois, eles também precisam do mesmo Cristo e do mesmo evangelho, não se deve concentrar-se em apenas um lugar, mas em todos, inclusive entre aqueles que não julgamos ser merecedores do evangelho “Samaria” – mas a missão ela só é completada quando o útimo da terra for alvo desta evangelização, isto indica que a disposição da Igreja é proclamar o evangelho a toda a criatura segundo as ordens de Cristo. Diante disso que verdades podemos aplicar as nossas vidas sobre estas questões levantadas?
1. Compreender que a Igreja se manifesta pela finalidade com qual Deus a estabeleceu.
2. Compreender Que Deus capacita a Igreja para cumprir os seus propósitos redentivos.
3. Aplicar a verdade de que a nossa Eclesiologia é definida pela ação soberana do Espírito Santo sobre a nossa vida.
4. Viver a realidade de que não podemos transferir a nossa responsabilidade missiológica, pois, a Igreja foi capacitada para proclamar o evangelho, isto significa que não deveríamos nos apoiar nas muletas das agências missionárias, transferindo para outros o que é de inteira responsabilidade da Igreja.
5. Confiar que apenas Deus nos indica o campo, isto também mostra que apenas ele produz os resultados da Igreja, ou seja, a nós não foi dada a tarefa de produzir corações que adorem ao Senhor, mas nos foi confiada a palavra da reconciliação para ser proclamada.
[1] O autor é Membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, atualmente está bacharelando em Teologia no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) e lidera uma Congregação Presbiteriana em Prazeres – End. Rua 1 ao lado do Supermercado Arco-íris.
[2] Esta é uma transliteração: significa que os termos gregos foram substituídos pelos seus equivalentes em português para que leitor saiba o que se está lendo.
[3] Estou pensando como teólogo bíblico, mas não estou negando que haja alguma operação do Espírito na vida daqueles que não são crentes, pois, sabemos que a doutrina da Graça comum diz respeito a essa operação do Espírito na vida dos não eleitos.
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