sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estudo Bíblico e Teológico:
A BÍBLIA COMO O LIVRO DO PACTO DE DEUS.
Prof. João Ricardo Ferreira de França.
jrcalvino9@gmail.com
fones: 3475-7544 / 8684-6461.
Introdução: O estudo da Bíblia exige de nós conhecimento. Um conhecimento do que este livro significa para a Igreja; e, sem este conhecimento não poderemos progredir em nosso entendimento de quem é Deus, nem muito menos compreender os seus atos de salvação neste mundo, por isso, este breve estudo vem a tona para nos ajudar a compreender a Palavra de Deus. pois, há uma necessidade de se compreender a bíblia. Gostaria de focalizar o nosso estudo sob a ótica de que o livro que temos diante de nós é um livro pactual. Onde Deus se revela a nós de forma pura e límpida.
A bíblia é a fonte de toda a nossa teologia e seria imprudente estudarmos qualquer doutrina sem considerarmos a fonte desta doutrina, ou seja, seria insensato não considerarmos a Bíblia como ela de fato é: A revelação de Deus.

I – PONTOS DE VISTAS SOBRE A BÍBLIA.

Ao longo da história da Igreja tem surgido vários pontos de vista a respeito do que seja a Bíblia, e sobre a maneira como ela deve ser lida e interpretada, vejamos estas visões resumidamente:

1.1 – A VISÃO FUNDAMENTALISTA: Esta visão é muito boa, pois, olha para a Bíblia como sendo de fato a Palavra de Deus, todavia, faz uma distinção gritante entre o Antigo e o Novo Testamento, dividindo o povo de Deus; sugerindo que Deus tem dois povos – Israel e a Igreja.
1.2 - VISÃO CRÍTICO-LIBERAL: Esta visão anula toda a idéia que a Bíblia seja a Palavra de Deus, sugerindo que a Bíblia é um livro com muitos mitos, negando os milagres do Antigo Testamento e do Novo Testamentos; resta visão deve ser rejeitada, pois, não se apoia na revelação escrita de Deus.
1.3 – A VISÃO NEO-ORTODOXA OU NEO-EVANGÉLICA: Sustenta que a Bíblia está misturada de verdade e de erros, e que nem tudo que está escrito na Bíblia é verdadeiro, esta é a visão de que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas que se torna a Palavra de Deus quando é pregada e crida pelo ouvinte. Esta visão também deve ser rejeitada, pois, toda meia-verdade é uma mentira completa.
1.4 – A VISÃO HISTÓRICA-REFORMADA: É a visão de que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus toda suficiente para nos conduzir na fé e na conduta Cristã. É esta a convicção que nós abraçamos como Igreja. Podemos dizer que esta é a correta visão que devemos ter da Bíblia. Isso significa que sustentamos que na Bíblia não existe nenhum mito, nenhum erro ou mesmo que ela é incompleta , mas que a Bíblia é um livro verdadeiro em tudo o que afirma. A visão Reformada ou Calvinista pode ser resumida conforme está abaixo:
a. A Bíblia é o registro da revelação das relações pactuais de Deus.
b. A Bíblia apresenta uma só mesagem: unificada, integrada que há de desenvolver-se.
c. A Bíblia como livro pactual nos mostra isso de forma clara.
d. A Bíblia como tal possui qualidades específicas.

II – A NATUREZA PACTUAL DA BÍLIA.
2.1 – O Registro Escrito:
Muitos não compreendem a Bíblia porque não percebem que a Palavra de Deus foi escrita por homens que viveram em culturas e épocas diferentes das nossas. Entretanto, o que os escritores registraram não nasceu da intenção deles, mas foi a mão de Deus quem os conduziu a escrever o que escreveram.
O registro escrito possui vários gêneros literários. Isso inclui “narrativas”, “pronunciamentos proféticos”, “admoestações em forma de sermão”, “diálogos”, “hinos”, “orações”, veja alguns exemplos:

Ex.15.1,22 – “Então cantou Moisés e os filhos de Israel em cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque graciosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. [...]Depois fez Moisés partir os israelitas do Mar Vermelho, e saíram ao deserto de Sur; e andaram três dias no deserto, e não acharam água.”[1]
Lucas 3.23 – “E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) Filho de José e José de Heli,”[2]

2.2 – Revelação:

A Bíblia é a revelação de Deus ao homem. Mas o que significa a palavra revelação? A resposta é simples, o conceito de revelação “sugere tirar o véu, abrir, tornar acessível o que, de outra forma, permaneceria desconhecido”.
Isso nos leva para a consideração de que Deus é a fonte final e o doador da revelação. A base fundamental está no fato de que a palavra divina é a revelação desse grandioso Deus; e, o conceito refere-se, primeiro, às palavras enunciadas por Deus. Ele falou ao longo de toda a Criação; notemos a frase dominante no capítulo 1 de Gênesis: “e Deus disse”
Mas, algo precisa ser dito aqui que “Deus falou também palavras que pertencem à redenção. Esta perspectiva nos leva para Êxodo capítulo 20. 1-17; o que temos aqui? “Então falou Deus....” ele falou todas a palavras. Mas, o que ele especificamente falou? “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do egito da casa da servidão”. A Lei nos mostra a redenção em seu prefácio.
Todavia, estas palavras faladas foram transmitidas em linguagem humana inteligível, isto é, em palavras humanas, arranjadas em sentenças e parágrafos.
Neste registro humano temos também a resposta humana. Deus sempre provoca a resposta do homem quando busca manifestar sua justiça, um exemplo claro disso é o Salmo 51; o Saltério (Livro dos Salmos) é compreendido como sendo a resposta humana à revelação de Deus. Deus provoca o homem com sua Santidade para Ter uma resposta de arrependimento um exemplo é Isaías 6.8-13.]

2.3 – As Relações Pactuais:

Qual é o tema central da Bíblia? Alguns estudiosos dizem que é a promessa, outros dizem que é o Reino, mas nós pensamos que o tema central é o Pacto de Deus. A Bíblia é o livro permanente das relações pactuais. O pacto assume conceito central na Palavra de Deus. O que é um pacto? Pacto é uma aliança. Deus entrou em Aliança com o homem desde o éden.
Esta perspectiva assume vital importância em nosso estudo. Pois, temos aqui
2.3.1 – A Bíblia Retrata o pacto em harmonia com o Reino de Deus.

A aliança nos diz que Deus é “o rei por virtude de quem e o que Ele é como Deus; porque ele criou, sustenta e governa, controla e dirige todas as coisas na criação;...” em outras palavras, a aliança fala de Deus como sendo o “Senhor da redenção” e que deve ser contemplado como o “consumador e o Juiz final e absoluto de toda a humanidade”. Essas declarações nos indicam que a Bíblia é um livro que trata do Reino de Deus entre os homens. Esta é a primeira verdade sobre as relações pactuais apresentadas na Bíblia.

2.3.2 – A Bíblia apresenta o Pacto em sua natureza intrínseca.

O que é está em aliança com Deus? A Bíblia nos ensina que é “estar ligado a ele por um laço de vida e amor.” Este laço é divinamente “iniciado e mantido”, este ponto precisa ser considerado quando lemos no Salmo 89. 30-35:
“ Se os seus filhos desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos, 31 se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos, 32 então, punirei com vara as suas transgressões e com açoites, a sua iniqüidade. 33 Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade. 34 Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram. 35 Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?):”

2.3.3 – A Bíblia apresenta-nos que este laço foi iniciado na Criação.

Deus traz o mundo à existência porque tenciona manifestar a sua glória neste mundo. Ao criar o homem Deus decide esculpir no homem a sua imagem (Gênesis 1.26) conforme registra Moisés:“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.”
Ao criar o homem nestes termos Deus estabeleceu “um laço de vida e amor entre ele próprio e a humanidade”. Este é o pacto da Criação. Agora quando Adão e Eva pecaram, tornaram-se quebradores do pacto(Gênesis 2.15-17); eles “romperam o laço de vida e amor de seu lado” (Gênesis 3.6) “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.”
Mas, qual é a ação de Deus? “Deus ,entretanto, manteve suas relações de vida e amor e, afim de restaurar plenamente a humanidade no pacto da criação, então, surge uma nova dimensão do pacto. Ele torna possível a redenção da humanidade em Gênesis 3.15.( pacto da redenção)

III – A MENSAGEM ÚNIFICADA, INTEGRADA E DESENVOLVIDA DA BÍBLIA.

A Bíblia é o registro da vontade de Deus ao homem. Ela trata de duas grandes relações pactuais (criação e redenção), a história da salvação está condida nesta perspectiva pactual da Bíblia. Agora precisamos estudar a respeito desta mensagem. A grande questão é: quantas mensagem possui a Bíblia? E a divisão Antigo e Novo Testamento é legítima? O conflito entre Lei e Graça é verdadeiro? São perguntas que precisam ser respondidas. Devemos considerar algumas realidades:

A. A mensagem da Bíblia é Unificada:

Temos a plena convicção de que o tema de toda a Bíblia é o “Reino de Deus e o Pacto”. Este é o tema controlador de nossa compreensão da Bíblia como Palavra de Deus.

B. A mensagem da Bíblia é Integrada:

Esta mensagem possui diversos elementos que a constitui. Isto porque o Deus Trino decidiu salvar, redimir, resgatar e restaurar uma humanidade perdida. Note estamos falando da Bíblia como o livro do pacto que registra toda a revelação pactual de Deus.

C. A mensagem da Bíblia é Desenvolvida:

Este é o aspcto mais importante para a compreensão dos ensinos na Palavra de Deus. O que queremos dizer com isso?

C.1 – Que a revelação deste pacto é orgânica: A Bíblia que temos em nossa mão não foi dada de uma única vez, Deus falou várias vezes e de várias formas, conforme aprendemos de Hebreus 1.1: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,”. A revelação de Deus esteve presente como sementes em diversos lugares até nascer uma grande árvores chamada Bíblia Sagrada.

C.2 – A revelação foi Progressivamente revelada: A palavra de Deus foi dada de forma a chegar ao seu climax, assim como uma árvore nasce da sementes e vai crescendo e se desenvolvendo assim foi a questão da Bíblia.

C.3 – A revelação é histórica: A mensagem redentora de Deus na Bíblia vem pelos agentes e circunstâncias históricas. Assim ocorreu nos tempos dos profetas do Antigo e do Novo Testamentos.

IV – CARACTERÍSTICAS DA BÍBLIA:

1. Ela é Singular: Ela é um livro divino-humano, sua mensagem é de origem divina; a Bíblia é também humana, pois, foi escrita por homens (2 Pedro 1.20-21).

2. Ela é um livro do pacto: Ela revela a soberania de Deus, mostrando o amor indomável de Deus pelo povo da aliança.
3. A Bíblia foi escrita dentro da comunidade do pacto: Israel deveria manifestas as virtudes da Lei para toda a humanidade. Pois, foi assim que Deus planejou quando chamou Abraão ( Gênesis 12.1-3)
4. A Bíblia é um livro transcultural: A revelação de Deus na Bíblia não se condiciona a cultura de uma determinada época. Por isso, deve ser recebida como Palavra de Deus.

[1] Este texto começa com uma narrativa e vai para a poesia, depois, volta para a narrativa ;e por fim uma poesia.
[2] note que o texto começa com uma narrativa e termina com uma genealogia.
ENTENDENDO O CREDO APOSTÓLICO.
com
João Ricardo Ferreira de França.[1]
jrcalvino9@gmail.com /jrcalvino9@hotmail.com
jrcalvino9@yahoo.com.br

Boa noite a todos, nós estamos mais uma vez aqui para estudarmos este tão precioso credo, e estamos agora abordando o segundo aspecto doutrinário do credo, ou seja, estamos lidando com: Deus, Filho e a nossa redenção. O nosso último encontro foi salutar, pois, aprendemos sobre a primazia de Cristo no credo. E hoje vamos trabalhar um aspecto que julgo de capital importância para cada um de nós que estamos aqui nesta noite, vejo que muitos tomam nota do que falo, isso é bom, todavia, gostaria que cada um pensasse comigo sobre o que vamos estudar apartir deste momento.
Iremos de fato avaliar o terceiro artigo do credo. Que diz: “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria...” Quando leio estas palavras fico pensando sobre que tema daria a esta aula de hoje? Seria o ato magno do Espírito Santo? Seria um bom tema para explorarmos nesta aula, todavia, isso seria cometer uma incongruência tamanha, pois, aqui se enuncia o aspeto teológico de Deus, o Filho; então, penso que o tema, não menos valoroso do que o que acabei de especular, seria de fato:
O GRANDE MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO.
Pois bem, este é o tema de nosso estudo desta noite. A doutrina da encarnação sumiu de nossos púlpitos, onde ela está? Por onde anda? Até mesmo em Igrejas confessionais tal doutrina não recebe a devida atenção; estaríamos prontos a vasculhar o credo e procurar nesta doutrina as dracmas perdidas da Igreja? Alguns, têm sugerido que tal doutrina, a encarnação, serve apenas para os círculos acadêmicos. É verdade que muitos de nós aqui pode até pensar desta forma, todavia, não deveria ser visto por este prisma. A encarnação é a doutrina da Igreja – no sentido mais prático do termo – e não pode ser relegada o mero intelectualismo árido que marca o nosso tempo.
O credo quando é recitado na Igreja fala-nos disso de forma muito clara, e precisamos compreender isso da forma mais prática e vivencial possível, este tem sido o meu grande desafio ao ministrar-lhes estas singelas aulas.
O nosso símbolo de fé diz “Creio em Jesus Cristo[...] o qual foi concebido por Obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...” estas palavras me deixam perplexo, pois, nos comunicam algo mais do que os melhores livros poderiam fazê-lo; estas palavras nos falam que Deus decidiu tornar-se um homem! A Segunda Pessoa da Trindade, Deus, o Filho foi “Concebido”! Nossa! Isso é elevado de mais para cada um de nós aqui nesta noite. Mas é a fé da Igreja e não pode ser negligenciada. Deus veio até os homens em forma humana. Isso é importante para todos nós que somos salvos, sem a encarnação não haveria a possibilidade de redenção.
O credo diz que a Igreja crê na realidade histórica da encarnação. Por que digo isso? Bem, porque muitos têm dito que não existe tal milagre! Vejamos o que podemos aprender sobre tais palavras com muita parcimônia.
A primeira questão que desejo chamar a sua atenção no credo é a expressão: “o qual foi concebido...” a palavra chave para toda a nossa abordagem está aqui “concebido” o termo grego pode ser traduzido por “gerado”, isso nos lembra a afirmação de calcedônia em 451 d.C – “gerado, não feito” – a idéia que o credo nos passa é que Cristo não veio ao mundo por ato criativo de Deus, o que de fato o colocaria na função de criatura de Deus! Gerar é algo mais profundo do que criar.
O que está envolvido aqui diletos irmãos em Cristo? Quando o credo usa o termo “concebido” está nos dizendo que Cristo tinha a mesma natureza do Pai. Reiteremos este assunto porque possui uma capital importância para cada um de nós. A negação deste principio basilar leva-nos para uma linha de uma cristologia truncada, anti-cristã e anti-filosófica.
A encarnação tornou-se possível devido ao papel ativo do Espírito Santo; isso é demonstrado em nosso credo que diz “...foi concebido por obra do Espírito Santo...” quando olhamos para esta declaração nos perguntamos, o que significam estas palavras? Estas palavras significam que O Espírito Santo esteve santificando o ventre da virgem para que esta pudesse receber o Filho de Deus. A obra do Espírito estava vinculado ao fato de que a concepção de Cristo deveria ser basicamente erigida sobre este princípio imperecível. O ventre de Maria deveria ser santificado para que a corrupção do gênero humano não passe para o redentor.
Qual era a função do Espírito Santo neste grande evento da encarnação? Um grande erudito nos diz que a função do Espírito Santo era “conservar a santidade e a impecabilidade daquele que estava para nascer”[2]; estamos de acordo com isso? Sim. Pois a evidência bíblica nos inclina para isto conforme Lucas 1.35.
A obra santificadora do Espírito sobre o ventre da virgem era de notável necessidade uma vez que todos (homens e mulheres) nascemos corrompidos conforme nos ensina o santo apóstolo em Romanos 5.12, era preciso que a doutrina da encarnação preconizada em Gênesis 3.15 encontrasse espaço mediante a ação do Espírito Santo – o descendente prometido deveria vir ao mundo para redimir, ser salvador e só poderia fazê-lo tendo uma natureza livre do pecado.
Isso nos leva para outra verdade ensinada no credo “o qual foi concebido por obra do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...”esta declaração do símbolo de fé deixa-me perplexo! Ele nasceu... Cristo veio ao mundo. Deus era uma criança nos colos de uma mortal! Aqui se retrata a profunda humilhação de nosso redentor. Ele nasceu de uma mulher.
Isso era necessário? A resposta deve ser positiva, pois, vemos no nascimento de Cristo o cumprimento de Gênesis 3.15. Ele era o segundo Adão que nos fala o apóstolo em Romanos 5. Ele tinha que ser humano perfeito. A doutrina enunciada aqui nos conduz para a compreensão da solidariedade da raça humana. Cristo partilhou de nossa natureza, ele recebeu uma natureza humana verdadeira – herdada de Maria – todavia, com diz Calvino, uma natureza “viciada a tantas misérias”[3] a humilhação de Cristo está aqui clara diante de nós. O credo confessa isso. Ele se humanizou, e vestiu os trapos de nossa carne. ( Fp. 2.5-11)
O nascimento virginal de Cristo mais a ação soberana do Espírito Santo mostra a novidade da historia redentiva que Deus estava executando. O seu Filho estava vindo ao mundo para redimir o seu povo. O Seu Filho Santo veio habitar com os pecadores.
Note algo fundamental no credo. Não diz que ele veio ser depositado no ventre da virgem! Ele veio nascer. Ele nasceu, o seu nascimento foi natural – não foi algo magistral, foi simples, todavia, foi milagroso, pois, uma virgem gerou o Filho de Deus; aqui ecoa a realização do dito profético de Isaías 7.14 como boas-novas aos pecadores.
Quando o credo diz que ele “nasceu da virgem” se tem em mente mostrar que ele [Cristo] tomou para si uma alma humana verdadeira e que tinha um corpo real verdadeiro tangível ao toque humano Jo. 20.27-28. A Bíblia está repleta desta verdade que não pode ser negada.
Aprendemos pelas Escrituras que ele se “encarnou” conforme lemos em João 1.14; ele habitou entre nós. Já dissemos em outra ocasião que o verbo habitou aqui nesta passagem indica que “Deus tabernaculou”, armou a sua tenda em nosso meio. Ou seja, o nascimento do Filho Deus era a manifestação plena do dito profético que diz “seu nome será Emanuel” que quer dizer “Deus conosco”! Este deve ser o entendimento desta questão da encarnação.
A Bíblia ensina que Cristo tinha uma alma humana verdadeira vemos isso em Mateus 26.38, uma alma que poderia ser marcada pela tristeza; pela angústia de morte! Este é o ponto em questão, ele era homem pleno em sua constituição e negá-lo seria ir contra toda a evidência Bíblica.
Em nossas leituras bíblicas também aprendemos que Cristo de fato nasceu da virgem conforme nos ensina o credo que recitamos dominicalmente, a Bíblia diz que ele nasceu desta virgem que o credo apresenta o nome “Maria” Lucas 1.27,21,42.
Mas o credo está também focalizado na realidade de que o nascimento de Cristo vindo por uma virgem era de fato a inauguração de novo momento na história da redenção dos homens conforme aprendemos em Galátas 4.4 – na plenitude dos tempos – isso indica que o nascimento de Cristo inaugura o fim de uma era marcada pelo pecado e inaugura uma nova época. Ele é a concretização da esperança escatológica do período veterotestamentário. Então, Maria não está em cena neste aspecto de forma alheia a vontade de Deus, mas está exatamente para fazer cumprir o propósito de Deus para a redenção da humanidade que é restaurada em Cristo.
Cabe então, uma pergunta: Maria é co-redentora? Não. Ele não é redentora, mas é redimida pela ação de Deus. Ela crer em seu salvador – bastar ler o seu cântico no Evangelho de Lucas - o que este aspecto do credo sumariza para cada um de nós nesta noite é que Cristo tinha de fato uma natureza humana herdada de sua genitora. Todavia, ela gera a pessoa do redentor que é Deus e homem.
A encarnação de Cristo e sua geração no ventre da virgem nos aponta para a realidade da humanidade perfeita – perfeita? – Sim! Porque Cristo é sem pecado, ou melhor, concebido sem pecado. Isso não quer dizer que a relação marital seria pecado, especialmente neste caso aqui, mas significa que o efeito do ato miraculoso do nascimento virginal chama atenção para a mensagem redentiva de Deus ao homem. A sua concepção no ventre da virgem nos alude a questão de que formos feitos para sermos perfeitos, mas o pecado mudou tudo isso! É no ventre de Maria que pecado começa a ser tratado como deveria ser encarado, ou seja, como algo que corrompe todos os propósitos divinos, por isso, para a resolução do problema chamado de pecado é necessário uma intervenção divina – por isso, temos a menção ao Espírito Santo no credo – o Espírito Santo possibilita a chegada de Cristo ao mundo dos mortais.
Mas, é bom que se diga que o credo está rejeitando a noção gnóstica, conforme já temos abordado, pois, a realidade da encarnação é que Cristo sendo Deus veio até nós pecadores. Isso nos leva a entender que a matéria não é má conforme era ensinado pelos gnósticos. O propósito de tudo é a glória de Deus neste assunto. Deus é glorificado no simples fato de que o seu Filho Jesus Cristo assume a nossa natureza para puder satisfazer a justiça eterna de Deus.
Que lições aprendemos aqui?

1 – Aprendemos que o pecado é algo sério: Cristo vem e se faz homem porque o pecado corrompeu toda a raça humana, e apenas um homem perfeito poderia de fato satisfazer a ira de Deus, por isso, devemos odiar o pecado pois ele corrompe tudo o que deveria ser perfeito.

2. Aprendemos que a humildade é singular no cristianismo: O próprio Cristo nos ensina isso de forma evidente, ele sendo o Senhor do universo, criador de todas as coisas no cosmos decide vestir-se da carne humana. É uma grande lição para cada um de nós aqui. O nosso Deus veio habitar entre nós! Isso exige e nós humildade.

3. Aprendemos que temos esperança: A encarnação de Cristo nos ensina que há uma esperança fundamental na vida da Igreja, é o fato de que a humanidade perfeita foi apresentada a Deus por nosso redentor, isso nos dá esperança de que tudo o que hoje somos – com dor, lágrimas, perdas gritantes e morte – é nada diante da nova era inaugurada pelo Redentor! Temos a certeza de que a nossa humanidade está segura porque o nosso Deus veio e se fez homem e cumpriu as exigências da lei em nosso lugar.
[1] O Autor é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. É fundador e atualmente lidera a Congregação Presbiteriana da Sagrada Herança Reformada em Prazeres – Jaboatão dos Guararapes.
[2] FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 1 edição, 2000, p.50.
[3] CALVINO, João. The Gospel according to John, Edingurgo: St. Andrew Press,1959, p.20.