OS
SACRAMENTOS NA TRADIÇÃO LITÚRGICA REFORMADA:
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
A doutrina dos sacramentos da
Igreja Presbiteriana está intimamente ligada à concepção calvinista destes
mistérios da salvação. “A teologia sacramental do reformador João Calvino
encontra-se principalmente nos capítulos XIV a XIX do livro IV da Instituição
da Religião Cristã (Institutas) [...]”
. Essa
tradição calvinista se faz presente nos símbolos de fé de Westminster que são
padrões confessionais da Igreja Presbiteriana.
O
que é um sacramento? O Catecismo Maior responde:
Um sacramento é uma santa
ordenança instituída por Cristo em sua Igreja, para significar, selar e
conferir àqueles que estão no pacto da graça os benefícios da mediação de
Cristo; para os fortalecer e lhes aumentar a fé e todas as mais graças, e os
obrigar à obediência; para testemunhar e nutrir o seu amor e comunhão uns para
com os outros, e para distingui-los dos que estão fora.
1 – O BATISMO CRISTÃO:
O sacramento do Batismo é fundamental na comunidade
dos fiéis. Uma vez que ele apresenta a nova perspectiva da vida cristã; pois,
este sacramento é “um sinal e selo de nos
unir a si mesmo, da remissão de pecados pelo seu sangue e da regeneração pelo
seu Espírito; da adoção e ressurreição para a vida eterna”.
a) Nossa União com Cristo apontada
no Batismo:
O nosso Catecismo tem a definição do batismo como um
sinal e selo da aliança para indicar a nossa união com Cristo. Paulo nos ensina
isso em Gálatas 3.27 – “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de
Cristo vos revestistes.” – então, no ato do batismo em pleno culto público é
uma declaração de Deus para conosco de que pertencemos a Cristo e estamos em
íntima comunhão com ele.
b) O Batismo é um sinal e selo das
bênçãos salvadoras:
Todas
as bênçãos salvadoras que carecemos são assinaladas e apontadas como uma
realidade no sacramento do batismo – ele aponta para tudo aquilo que Cristo fez
tais como a remissão dos pecados (Atos 22.16; Marcos 1.4; Apocalipse 1.5); a
regeneração produzida pelo Espírito Santo é simbolizada pelo derramar da água
do batismo (João 3.5; Tito 3.5).
c) O Batismo é o selo da admissão na
igreja de Deus:
O catecismo ainda nos diz que este sacramento serve
para que os que são batizados sejam “solenemente
admitidos à Igreja visível e entram em um comprometimento público, professando
pertencer inteira e unicamente ao Senhor.” (Atos 2.41)
e) Os Sujeitos do Batismo:
O batismo cristão deve ser ministrado aos pais
bem como aos filhos. O batismo doméstico deve ser praticado na Igreja de
Cristo. O que labora para a prática do
batismo infantil é o testemunho claro das Escrituras sobre a continuação da aliança (Colossenses
2.11-12); assim, como também a evidência bíblica de batismo de famílias
inteiras nas Escrituras (Atos 16.15,33-34). “Deveríamos falar em ‘batismo
familiar’ em vez de ‘batismo infantil’”
2 – A EUCARISTIA.
A
prática litúrgica na igreja integra o conceito da celebração da eucaristia. O
sacramento da Santa Ceia do Senhor, como é conhecido, “é o rito basilar de
nossa fé”.
A
Eucaristia é lembrada como a proclamação visível de Deus ao mundo de sua
redenção.
Mas, o que é a Eucaristia ou Ceia do
Senhor? O Catecismo Maior de Westminster na pergunta 168 nos responde:
A Ceia do Senhor é um sacramento do Novo Testamento no
qual, dando-se e recebendo-se pão e vinho, conforme a instituição de Jesus
Cristo, é anunciada a sua morte; e os que dignamente participam dele,
alimentam-se do corpo e do sangue de Cristo para sua nutrição espiritual e
crescimento na graça; têm a sua união e comunhão com ele confirmadas;
testemunham e renovam a sua gratidão e consagração a Deus e o seu mútuo amor
uns para com os outros, como membros do mesmo corpo místico.
É
a refeição da aliança do povo de Deus (Mateus 26.26-28) apontando para o
sofrimento de Cristo e a libertação de seu povo.
a)
As concepções eucarísticas sobre a presença real de Cristo:
1. Transubstanciação:
A concepção da Igreja Romana de que o pão e o vinho se transformam no corpo
de Cristo literalmente.
2. Consubstanciação: A concepção
luterana de que Cristo está no pão e vinho, ou sob, ao lado junto com estes
elementos.
3.Concepção Memorial: A concepção
zuingliana de que a Santa Ceia é um mero memorial no qual não confere benção
alguma.
4. A presença real, porém espiritual: É
a posição presbiteriana de que Cristo está presente na eucaristia de forma real
porém verdadeira e espiritualmente.
b)
A regularidade da Eucaristia no culto público: Quantas vezes devem ocorrer
a Eucaristia na celebração pública? Convencionou-se nas nossas igrejas a
celebrar a Ceia do Senhor uma vez por mês, geralmente, no primeiro domingo de
cada mês. Muitos procuram justificar isso associando o rito pascal, que era
celebrado uma vez por ano, como padrão para ser uma vez por mês. E, historicamente
sabemos que Zwínglio reduziu a freqüência da celebração da Ceia do Senhor a
quatro vezes por ano – e ainda desvinculou a celebração do dia do Senhor.
Mas, estudando os dados do Novo
Testamento sabemos que a Ceia do Senhor era freqüente na vida litúrgica da
igreja primitiva. Em Atos 2.42 nos mostra isso de forma muito clara. “A Ceia
era, portanto, celebrada regularmente. Diz também a narrativa, como de
passagem, que os irmãos de Trôade, no primeiro dia da semana, estavam ‘reunidos
como o fim de partir o pão’ (Atos 20.7)”.
A vida da igreja era litúrgica e
sacramental. É notório que estes textos sempre apresentam o vínculo conectivo
entre o “dia do senhor” e o “partir do pão”; então, a celebração deve ser feita
no domingo e deve ser regular. Na primeira carta de Paulo aos Coríntios ele
mostra que a eucaristia era celebrada regularmente na vida da Igreja (1ª
Coríntios 10.16; 11.23-31). No capítulo 11.20 o apóstolo mostrar que ao tratar
do tema da profanação da refeição pactual ele mensura a ideia que eles
normalmente se reúnem para aquilo. Ele usa o negativo “não é a Ceia do Senhor
que comeis”, por causa, da prática pecaminosa deles que acabava por profanar o
sacramento regularmente.
No capítulo 11.24 o conceito de
memória é introduzido por Paulo seguindo a tradição de Cristo em Lucas 22.19. A
palavra grega “
ἀνάμνησιν.” [
anamnesin] Carrega o conceito muito amplo é mais que mera
lembrança. A ideia que o conceito encerra é de “tornar presente aquilo que
recorda”.
Podemos
dizer que se trata de uma recapitulação da história da redenção que nos fornece
certeza da presença verdadeira de Cristo na celebração litúrgica.
REFERÊNCIAS
BIBLIGRÁFICAS: