segunda-feira, 23 de março de 2015

OS SACRAMENTOS NA TRADIÇÃO LITÚRGICA REFORMADA:

 OS SACRAMENTOS NA TRADIÇÃO LITÚRGICA REFORMADA:

Rev. João Ricardo Ferreira de França.*

            A doutrina dos sacramentos da Igreja Presbiteriana está intimamente ligada à concepção calvinista destes mistérios da salvação. “A teologia sacramental do reformador João Calvino encontra-se principalmente nos capítulos XIV a XIX do livro IV da Instituição da Religião Cristã (Institutas) [...]”[1]. Essa tradição calvinista se faz presente nos símbolos de fé de Westminster que são padrões confessionais da Igreja Presbiteriana.
            O que é um sacramento? O Catecismo Maior responde:

Um sacramento é uma santa ordenança instituída por Cristo em sua Igreja, para significar, selar e conferir àqueles que estão no pacto da graça os benefícios da mediação de Cristo; para os fortalecer e lhes aumentar a fé e todas as mais graças, e os obrigar à obediência; para testemunhar e nutrir o seu amor e comunhão uns para com os outros, e para distingui-los dos que estão fora.[2]

1 – O BATISMO CRISTÃO:


            O sacramento do Batismo é fundamental na comunidade dos fiéis. Uma vez que ele apresenta a nova perspectiva da vida cristã; pois, este sacramento é “um sinal e selo de nos unir a si mesmo, da remissão de pecados pelo seu sangue e da regeneração pelo seu Espírito; da adoção e ressurreição para a vida eterna[3].
            a) Nossa União com Cristo apontada no Batismo:
            O nosso Catecismo tem a definição do batismo como um sinal e selo da aliança para indicar a nossa união com Cristo. Paulo nos ensina isso em Gálatas 3.27 – “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.” – então, no ato do batismo em pleno culto público é uma declaração de Deus para conosco de que pertencemos a Cristo e estamos em íntima comunhão com ele.
            b) O Batismo é um sinal e selo das bênçãos salvadoras:
            Todas as bênçãos salvadoras que carecemos são assinaladas e apontadas como uma realidade no sacramento do batismo – ele aponta para tudo aquilo que Cristo fez tais como a remissão dos pecados (Atos 22.16; Marcos 1.4; Apocalipse 1.5); a regeneração produzida pelo Espírito Santo é simbolizada pelo derramar da água do batismo (João 3.5; Tito 3.5).

            c) O Batismo é o selo da admissão na igreja de Deus:
            O catecismo ainda nos diz que este sacramento serve para que os que são batizados sejam “solenemente admitidos à Igreja visível e entram em um comprometimento público, professando pertencer inteira e unicamente ao Senhor.” (Atos 2.41)
            e) Os Sujeitos do Batismo:
             O batismo cristão deve ser ministrado aos pais bem como aos filhos. O batismo doméstico deve ser praticado na Igreja de Cristo.  O que labora para a prática do batismo infantil é o testemunho claro das Escrituras sobre  a continuação da aliança (Colossenses 2.11-12); assim, como também a evidência bíblica de batismo de famílias inteiras nas Escrituras (Atos 16.15,33-34). “Deveríamos falar em ‘batismo familiar’ em vez de ‘batismo infantil’”[4]

 

2 – A EUCARISTIA.


            A prática litúrgica na igreja integra o conceito da celebração da eucaristia. O sacramento da Santa Ceia do Senhor, como é conhecido, “é o rito basilar de nossa fé”.[5] A Eucaristia é lembrada como a proclamação visível de Deus ao mundo de sua redenção.
            Mas, o que é a Eucaristia ou Ceia do Senhor? O Catecismo Maior de Westminster na pergunta 168 nos responde:
A Ceia do Senhor é um sacramento do Novo Testamento no qual, dando-se e recebendo-se pão e vinho, conforme a instituição de Jesus Cristo, é anunciada a sua morte; e os que dignamente participam dele, alimentam-se do corpo e do sangue de Cristo para sua nutrição espiritual e crescimento na graça; têm a sua união e comunhão com ele confirmadas; testemunham e renovam a sua gratidão e consagração a Deus e o seu mútuo amor uns para com os outros, como membros do mesmo corpo místico.

            É a refeição da aliança do povo de Deus (Mateus 26.26-28) apontando para o sofrimento de Cristo e a libertação de seu povo.
            a) As concepções eucarísticas sobre a presença real de Cristo:
1. Transubstanciação: A concepção da Igreja Romana de que o pão e o vinho se transformam no corpo de Cristo literalmente.
2. Consubstanciação: A concepção luterana de que Cristo está no pão e vinho, ou sob, ao lado junto com estes elementos.
3.Concepção Memorial: A concepção zuingliana de que a Santa Ceia é um mero memorial no qual não confere benção alguma.
4. A presença real, porém espiritual: É a posição presbiteriana de que Cristo está presente na eucaristia de forma real porém verdadeira e espiritualmente.
            b) A regularidade da Eucaristia no culto público: Quantas vezes devem ocorrer a Eucaristia na celebração pública? Convencionou-se nas nossas igrejas a celebrar a Ceia do Senhor uma vez por mês, geralmente, no primeiro domingo de cada mês. Muitos procuram justificar isso associando o rito pascal, que era celebrado uma vez por ano, como padrão para ser uma vez por mês. E, historicamente sabemos que Zwínglio reduziu a freqüência da celebração da Ceia do Senhor a quatro vezes por ano – e ainda desvinculou a celebração do dia do Senhor.[6]
            Mas, estudando os dados do Novo Testamento sabemos que a Ceia do Senhor era freqüente na vida litúrgica da igreja primitiva. Em Atos 2.42 nos mostra isso de forma muito clara. “A Ceia era, portanto, celebrada regularmente. Diz também a narrativa, como de passagem, que os irmãos de Trôade, no primeiro dia da semana, estavam ‘reunidos como o fim de partir o pão’ (Atos 20.7)”.[7]
            A vida da igreja era litúrgica e sacramental. É notório que estes textos sempre apresentam o vínculo conectivo entre o “dia do senhor” e o “partir do pão”; então, a celebração deve ser feita no domingo e deve ser regular. Na primeira carta de Paulo aos Coríntios ele mostra que a eucaristia era celebrada regularmente na vida da Igreja (1ª Coríntios 10.16; 11.23-31). No capítulo 11.20 o apóstolo mostrar que ao tratar do tema da profanação da refeição pactual ele mensura a ideia que eles normalmente se reúnem para aquilo. Ele usa o negativo “não é a Ceia do Senhor que comeis”, por causa, da prática pecaminosa deles que acabava por profanar o sacramento regularmente.
            No capítulo 11.24 o conceito de memória é introduzido por Paulo seguindo a tradição de Cristo em Lucas 22.19. A palavra grega “ἀνάμνησιν.” [anamnesin] Carrega o  conceito muito amplo é mais que mera lembrança. A ideia que o conceito encerra é de “tornar presente aquilo que recorda”.[8] Podemos dizer que se trata de uma recapitulação da história da redenção que nos fornece certeza da presença verdadeira de Cristo na celebração litúrgica.





REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS:


1.       ALLMEN, J.J. Von. O Culto Cristão Teologia e Prática. Tradução: Dírson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: ASTE, 2006, p. 147.
2.       GIRAUDO, Cesare. Redescobrindo a Eucaristia. Tradução: Francisco Taborda.  São Paulo: Edições Loyola.
3.       KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
4.       LUCAS, Sean Michael . O Cristão Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
5.       MAZZAROLO, Isidoro. A Eucaristia: Memorial da Nova Aliança – Continuidade e Rupturas. São Paulo: Editora Paulus, 1999.




* O Autor é Ministro da  Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Estudou no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife – PE. Foi professor de línguas bíblicas (Hebraico e Grego) no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (SPFB) em Recife – PE. Atualmente é pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Piripiri – Piauí.(www.ipdepiripiri.blogspot.com.br )  É casado e tem um filho.
[1] KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.87-88.
[2] Catecismo Maior de Westminster  resposta à pergunta 162.
[3] Catecismo Maior de Westminster resposta à pergunta 165.
[4] LUCAS, Sean Michael . O Cristão Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.83.
[5] GIRAUDO, Cesare. Redescobrindo a Eucaristia. Tradução: Francisco Taborda.  São Paulo: Edições Loyola, p.7.
[6] KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.86.
[7] ALLMEN, J.J. Von. O Culto Cristão Teologia e Prática. Tradução: Dírson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: ASTE, 2006, p. 147.

[8] MAZZAROLO, Isidoro. A Eucaristia: Memorial da Nova Aliança – Continuidade e Rupturas. São Paulo: Editora Paulus, 1999, p.89.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O SER DE DEUS E OS SEUS ATRIBUTOS


O Ser de Deus e Seus Atributos.
Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França.
            A Teologia Sistemática busca apresentar também o ser de Deus e os seus Atributos. Lidar com este tema é fundamental para a vida da Igreja, pois, existe um total desconhecimento de quem seja o Deus que se revela na Igreja de Cristo.
            5.1 – O Ser de Deus:
            O Catecismo Maior de Westminster (1643-1648) na sua pergunta: Que é Deus? A resposta é a seguinte:
Deus é um espírito, em Si e por Si mesmo infinito em Seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; Todo-Suficiente, eterno, imutável, incompreensível, onipresente, Todo Poderoso, onisciente; sapientíssimo, justíssimo, misericordioso e cheio de graça, longânimo e pleno de verdade.[1]( Trindade. Capítulo 2, seção I)
            Esta definição teológica do Catecismo é uma verdade impar, pois, reflete o que as Igrejas herdeiras da Reforma sempre tem acreditado sobre o ser de Deus. A Confissão de Fé de Westminster nos apresenta a mesma tônica:
Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições.  Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, - onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus juizos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.[2]
            5.1.1 – Deus é Suficiente em si mesmo.
            A Confissão de Fé nos mostra com base na Bíblia que Deus é em si mesmo suficiente; o que isto quer dizer? Isto significa que Deus não é dependente da nada ao seu redor para continuar existindo.
            Deus tem em si mesmo toda:
a) Vida: ele é si mesmo e de si mesmo toda a vida (João 5.26)
b) Glória: Deus tem toda a glória em si mesmo. Ele é o Deus exaltado em si mesmo (Atos 7.2)
c) bondade: A Teologia Reformada diz que Deus é o supremo bem que homem deve ter. Isso quer dizer que para nós Deus é infinitamente bom (Salmos 119.68).
            Isto implica dizer que Deus não precisa de nada ou de ninguém para continuar existindo como Deus. Sua glória não é derivada de alguma coisa que criou. A confissão de Fé diz exatamente isso “Ele é todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas”. É nosso propósito viver para a Glória de Deus sem acrescentar nada a esta Glória.
            5.1.2 – Deus é o Fundamento de toda a Criação.
            Os teólogos de Westminster, juntamente com a Bíblia, declaram que Deus é a razão de existência de tudo o que foi criado. Os teólogos puritanos afirmam isso de forma bem arrojada e segura: “Ele é a única origem de todo o ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser.”
            A confissão diz que Deus é “a única origem de todo o ser”, então, entendemos que:
a. Deus é a fonte da existência: Isto significa que para nós o mundo não é o resultado de uma explosão (Big-Bang) e nem é o processo de uma geração espontânea (evolucionismo/darwianismo), mas que esta criação tem um único autor que o nosso Deus Trino (Atos 17.24-25)
b. Deus é a única origem indicando que ele é o Soberano sobre a criação: Todas as coisas que existem são dele, por ele e para ele, esta é a linguagem bíblica para descrever a soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas que ele criou – ele tem o “soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser” o conceito de soberania é ressaltado aqui porque Deus deve ser visto como o governante deste mundo (Rom. 11:36; Apoc. 4:11).
5.2 – Os Atributos de Deus:
            Deus se revela por meio de seus atributos, alguns preferem o termo qualidades ou perfeições de Deus, todavia, continuaremos usando o termo usual da Teologia Sistemática – os Atributos de Deus. Os atributos de Deus são classificados em duas categorias: Atributos Incomunicáveis e Atributos Comunicáveis.
5.2.1 – Os Atributos Incomunicáveis:
            Definição: Podemos dizer que são os atributos que Deus não comunica ao homem, pois, estes atributos encontram-se somente em Deus.
            A unidade de Deus: Antes de considerarmos apropriadamente este assunto, se faz necessário considerar a unidade Deus. Nós presbiterianos acreditamos que há um só Deus, e este é “Vivo e Verdadeiro”.
            O texto de Deuteronômio 6.4 nos mostra essa realidade. O termo “único” ocorre no texto para apontar uma “Unidade” não Absoluta, mas para uma “Unidade composta”, ou seja, Deus é um, mas nele há certa pluralidade que o judeu não podia explicar. Este é o indicio da doutrina da Trindade que consideraremos depois.
            a) Deus é Infinito em Perfeição:
             Deus tem sido caracterizado na Bíblia como um ser infinito. Em profunda perfeição a infinitude de Deus descreve que ele não tem fim, sempre continuará existindo, isto descreve que ele é isento de qualquer limitação, descreve que ele está ausente de qualquer erro em seu ser, e assim, descreve sua perfeição. Veja-se Jó 11.7-10; Salmos 145.3; Mt.5.48.
            b) Deus é Imutável:
            Outro atributo de Deus que é incomunicável ao homem é chamado de imutabilidade, a imutabilidade de Deus significa que Ele é sempre o mesmo em Seu ser, Ele não muda em sua natureza ontológica. O texto de Tiago. 1.17 nos informa isso. Três coisas podem ser analisadas aqui:
         (1) Tudo o que é bom vem de Deus.
            (2) Que de Deus as trevas não vem.
            (3) Que Deus não pode mudar.



            c) Deus é Eterno:
            A sua eternidade não pode ser enumerada, somente ele é o ETERNO POR MAGNIFICIENCIA. A eternidade de nossa alma está ligada à criação de Deus. O SENHOR criou o homem para ser eterno, mas a eternidade de Deus é dEle somente.
            d) Onipotência:
            Creio “em Deus Pai, Todo-Poderoso” esta é a confissão da igreja. O atributo de onipotência cabe somente em Deus que criou o mundo e tudo o que nele existe; ter todo poder significa que Deus pode fazer tudo o que lhe apraz para glorificar o seu próprio nome. Jó 37.23.
            e) Onisciente:
            Deus conhece todas as coisas em sua totalidade, esse conhecimento não é adquirido, mas é inato em seu ser, Deus não aprende as coisas como acontece conosco, mas ele sabe tudo – alguns chamam isso de conhecimento exaustivo e simultâneo de Deus. Dentro deste atributo podemos incluir a presciência que é fruto deste conhecimento exaustivo de Deus. Romanos 11.34 e 1 Pedro 1.1-2.
f) Onipresença:
            O Criador está em todos os lugares e não está limitado a estes lugares. É isto que quer dizer “Onipresença”. Dentro deste atributo encontramos apoio para duas verdades teológicas que são: 1) que Deus é Imanente – está na Criação, mas não é a Criação; 2) que Deus é transcendente – que está ausente na Criação, mas não abandona a Criação e não se funde ou confunde-se com ela. (Salmos 139.7-10).




[1] VOS, Johannes Geerhardus. Catecismo Maior de Westminster Comentado. Tradutor: Marcos Vasconcelos. São Paulo: Os Puritanos, 2007, p. 49.
[2] WESTMINSTER, Confissão de Fé. De Deus e da Santíssima Trindade. Capítulo 2, seção I in:  IN: Símbolos de Fé. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 27.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A DISTINÇÃO ENTRE OS PRESBÍTEROS DOCENTES E REGENTES - POR Roger L. Smalling.

          A Eclesiologia Reformada tem recebido alguma atenção em nossos dias, todavia, ainda continua sendo um assunto ignorado, desconhecido e até mesmo não estudado com afinco.


Ora o livro que o leitor lança seus olhos em cima trata de uma tema que durante muitos anos atormentou nossa mente. A chamada distinção entre os Presbíteros dentro do Presbiterianismo – Presbíteros Docentes e Presbíteros Regentes – isto porque em nosso entendimento tal distinção era superficial e não tinha apoio nas Escrituras. Até que comecei a estudar o assunto. Por diversas matizes cheguei a conclusão de que a distinção precisa ser mantida e preservada.

          Aqui o leitor será levado a três passos fundamentais para analisar esta questão da distinção entre os Presbíteros; no primeiro passo o autor mostrar como a PCA – Igreja Presbiteriana da América – entende o ofício de Presbítero, dando devida a atenção a fatos que envolvem esta temática da distinção; ou seja, seremos introduzidos aos conceitos do presbiterianismo histórico.

         Nesta primeira parte o leitor verá que há uma distinção sustentada pela Igreja ao longo dos séculos, também se discutirá a temática de quem deve pregar, ensinar na Igreja – de forma clara e inequívoca o autor – seguindo a tradição da PCA afirma: “Apenas os Presbíteros Docentes podem pregar, ensinar e discipular na Igreja” – ele mostra que esta é uma aplicação lógica do sistema confessional da Igreja Presbiteriana – conforme expressa nos Símbolos de Fé de Westminster.

        Na segunda parte desta obra o autor procura mostrar as evidências Bíblicas para se manter tal distinção, de forma primorosa os textos são esclarecidos não deixando duvida alguma sobre o papel de cada Presbítero dentro do governo e do ensino da Igreja de Cristo. É surpreendente a forma como o autor aborda estas questões tão singulares.

           É claro que após a leitura deste livro se repensará muito sobre a pregação feita por um leigo, ou mesmo por um Presbítero Regente; aqui temos um texto onde seremos todos nós desafiados a repensar tudo o quanto aprendemos até o dia de hoje.

           Na terceira e última parte do livro seremos introduzidos aos questionamentos gerais e mais comuns sobre este tópico da Eclesiologia; o autor levanta questões sobre a paridade eclesiástica dentro do sistema presbiteriano – esclarecendo pontos que muitas vezes ficam turvos na discussão sobre a temática aqui enunciada.

          A tradução do presente texto foi motivada por causa de conversas trocadas com o Reverendo Rodrigo Ferreira Brotto, nosso pastor e amigo, onde sempre nos oferece indicações de uma boa eclesiologia, sólida, histórica, confessional e acima de tudo Bíblica.

          Esperamos que este livro ajude-nos a compreender com mais clareza o oficio de Presbítero dentro de nossa amada Igreja Presbiteriana do Brasil.

Pelo Reino, por um Evangelho da Graça,

João Ricardo Ferreira de França

Teresina, 11 de Março de 2011.

quarta-feira, 16 de março de 2011

VALORIZANADO A LITERATURA CRISTÃ

VALORIZANDO A LITERATURA CRISTÃ.

João Ricardo Ferreira de França.

jrcalvino9@gmail.com /jrcalvino9@hotmail.com

jrcalvino9@yahoo.com.br

“Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos” (2 Timóteo 4.13).

Introdução:

Hoje estamos comemorando o 47° aniversário da biblioteca Francisca de Paula, e penso que precisamos sempre valorizá-la. Tenho percebido que a cristandade moderna tem negligenciado a leitura de bons livros, e especialmente, tem negligenciado a leitura da Bíblia. Existe algum benefício em ler livros e especialmente aqueles que se destinam à matéria cristã? A resposta é positiva.

Infelizmente os livros teológicos e devocionais não estão mais nas listas de requisitos prioritários na vida cristã. Isso ocorre sob o pretexto, falso pretexto, de que “temos a Bíblia” e “não precisamos de outros livros”. Algumas seitas chegam ao absurdo de impedirem os seus adeptos de estudarem a Bíblia, pois, segundo eles, a Bíblia não nos foi dada para ser estudada, mas para ser apenas lida. Tal perspectiva tem gerado graves erros doutrinários em nossa época, e em nossas igrejas.

O nosso tipo de cristianismo que temos visto nos púlpitos é totalmente desprovido de conhecimento, e quando considero o texto que citamos acima vemos o valor dos livros para o ministério do apóstolo Paulo. O curioso é que esse apóstolo estava próximo da morte, e ainda assim, queria estudar – como ele era diferente de muitos de nós que estamos no conforto! -; nós crentes reformados (calvinistas) devemos valorizar a leitura de bons livros; a nossa fé nos exige isso – o cristianismo histórico é intelectual.

Por que falar sobre isso? Porque a Reforma foi a maior produtora de conhecimento por meio da literatura, os grandes expositores da Bíblia foram grandes escritores, os puritanos são exemplos titânicos desta verdade, o dr.J.I.Packer, em seu livro “Entre os Gigantes de Deus” diz que “os pregadores puritanos às vezes se demoravam sobre uma única passagem durante meses ou mesmo anos” e continua dizendo que

O método analítico dos puritanos justifica a extensão de suas obras e exposições – seis mil páginas de pregação em formato de bolso sobre o livro de Jó (Joseph Caryl); duas mil páginas de pregação em formato maior sobre Hebreus (John Owen); cento e cinqüenta e dois sermões sobre o Salmo 51.1-7 (Hildersam) .



Tudo isso nos indica que precisamos ler. Por que precisamos ler? Por que precisamos valorizar a literatura cristã de qualidade? Vejamos algumas proposições que quero analisar com vocês nesta manhã:

I – Em primeiro Lugar, é porque os livros podem nos tornar inculcadores da verdade de Deus.

Enquanto não compreendermos esta verdade jamais pegaremos um bom comentário bíblico para ler. Considere o apóstolo Paulo. Você já se perguntou por que ele foi um grande mestre na igreja cristã? Por que ele conseguiu inculcar a Palavra de Deus na mente dos crentes? A resposta está aqui neste texto: “Timóteo quando você vier me visitar na prisão, traga-me os livros especialmente os pergaminhos” aqui, pelo exemplo do apóstolo, somos ensinados que devemos sempre Ter uma atitude de estudo constante da Palavra de Deus, ele consultava outros livros, e desta forma, usava o que aprendia neles para melhor transmitir a Palavra de Deus aos homens.

Todo o conhecimento adquirido ele usava sabiamente em benefício da fé cristã. Temos feito quando lemos um bom comentário? O apóstolo lia escritos dos pagãos para confrontá-los com as verdades de Deus e mostra-lhes que a graça comum fazia com que tais homens tinham um centelha da verdade de Deus, este é o caso em Atos 17.26-28).Vemos como o apóstolo usou escritos pagãos para pregar a Cristo e a Deus naquela cidade de Atenas.

Os livros podem nos tornam em inculcadores das verdades de Deus. Somos chamados para realizar essa inculcação da Lei de Deus aos nossos filhos (Dt.6.6-7) e por isso, existe a necessidade dos livros em nossos dias. Os livros nos tornam exatamente naquilo que Deus ordena que sejamos – Inculcadores de sua palavra.

II – Em segundo lugar, os livros podem nos tornar expositores à consciência dos homens.

Aqueles que labutam no ministério pastoral sabem que precisamos expor a Palavra de Deus aos homens, precisamos falar a cada um dos nossos ouvintes de uma maneira clara e expositora, por isso, sou defensor de que o melhor sermão que se enquadra a tal realidade é o expositivo.

Os homens precisam ser confrontados em nossas exposições do evangelho. Os livros nos ajudam a cumprir essa missão singular. Eles nos ajudam a expor a Palavra da Verdade com mais acuidade, os bons comentários e livros sobre a exposição bíblica devem ser consultados para empreendermos essa grandiosa tarefa, os que negligenciam este conselho ficarão totalmente desprovidos de conhecimento sólido e eficaz para responder as necessidades vitais do rebanho de Deus.

O nosso Evangelismo deve ser uma exposição clara das Escrituras e quando compreendemos isso de forma evidente podemos, sem sombra de dúvidas, nos tornar expositores à consciência dos homens. Muitos de nós não estão desafiando os ouvintes através de nossas exposições, apenas estamos entretendo os bodes e esquecendo de alimentar as ovelhas. Precisamos falar à consciência dos homens através das nossas exposições bíblicas que podem ser auxiliadas pela boa e saudável leitura!

É precisamente aqui onde precisamos aprender com os puritanos – aqueles grandes leitores e escritores do passado – como nos diz J.I.Packer: “O método expositivo dos puritanos consistia em primeiro apresentar as doutrinas – os princípios concernentes ao relacionamento entre Deus e os homens – presentes nos textos escolhidos, e depois, em aplicar esses princípios...Suas aplicações eram dirigidas à consciência dos homens, isto é, às razões práticas de auto-julgamento, em que a mente pesava as questões do dever, do merecimento e do relacionamento com Deus a cada momento da vida”

Expor a palavra de Deus aos homens e falar-lhes à consciência é nossa tarefa, e certamente é uma tarefa laboriosa, mas é algo necessário. A doutrina da suficiência das Escrituras não invalida o uso de bons comentários e recursos hermenêuticos para o melhor entendimento das verdades que se encontram nas páginas sagradas. A doutrina da suficiência consiste no eixo para as nossas exposições (2 Timóteo 3.15-17). A grande questão suscitada é como posso expositor à consciência dos homens se negligencio a leitura, o estudo e a compreensão daquilo que a Bíblia ensina? A busca do conhecimento é o meio pelo qual de fato conseguimos realizar uma exposição do evangelho de Deus.

III – Em Terceiro Lugar, Os Livros Podem Nos Tornar Em Educadores Da Mente.

Educação é uma palavra muito forte para cada um de nós, esta palavra na língua grega é “paidian” de onde vem a palavra “pedagogo”, “pedagogia”, ou seja, somos educadores. Somos chamados para sermos educadores da mente humana.

Educar a mente dos homens é nossa tarefa, o apóstolo Paulo sabia muito bem sobre isso, e por esta razão rogou a Timóteo que lhe trouxesse os “livros e os pergaminhos”, pois, ele era um educador no cárcere. Foi das prisões que ele produziu muitas de suas cartas. O seu estudo no cárcere não podia terminar, pois, o apóstolo disse que foi chamado por Deus para ser “apóstolo e mestre do evangelho”. Esse mestre deveria educar os homens no caminho que eles deviam seguir.

O crente só pode oferecer algum norte a quem lhe cerca se tiver de fato conhecimento sobre o que a Bíblia ensina sobre determinadas áreas. Precisamos ser pedagógicos em nossas exposições, em nossos ensinos e conversas sobre o evangelho de Deus, mas tudo isso é possível quando nos esmeramos no estudo de bons livros; precisamos ter em nossa mente as sábias palavras de um grande puritano: “a ignorância é quase todo o erro” (Richard Baxter). Precisamos ser educadores neste mundo. Precisamos nos dedicar à leitura de livros que nos ajudem nesta tarefa. Note o que Paulo ordena ao jovem pastor Timóteo: “Até à minha chegada, aplica-te à leitura, a exortação e ao ensino”(1 Timóteo 4.13). Notamos a relação existente entre a leitura e o ensino – a leitura nos torna capazes de ensinar – então, devemos nos dedicar à leitura de uma forma tal a ponto de sermos capazes de ensinar.

IV – Os Livros não substituem a obra do Espírito Santo.

Neste momento desejo fazer um alerta para cada um de nós nesta manhã. Tenho conhecimento de muitas pessoas que se dedicaram tanto ao estudo de livros que não sabem mais o que é uma leitura devocional com a Bíblia sagrada. Isso significa que estamos invertendo os valores – estamos dizendo que a opinião de grandes homens valem mais que as ordens de Deus – tal perspectiva tem prejudicado a igreja.

Precisamos ter em nossa mente que os livros não substituem a obra do Espírito Santo, e quando um crente ou um ministro esquece isso está fadado ao fracasso espiritual.

A Bíblia é a palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo e apenas ele nos faz de fato compreender determinadas coisas que nem os melhores exegetas conseguem, por isso, precisamos ter uma grande consideração pela Palavra de Deus, deve existir em nós uma profunda necessidade de lê-las com o auxilio do Espírito Santo, assim, como no estudo de bons livros sobre a Bíblia precisamos do Espírito Santo, de igual modo deve existir quando estudamos o livro de Deus. Erudição e piedade não devem ser separadas. Isso é um fato que tem sido negligenciado. Um grande teólogo disse:

Há certamente algo errado com a vida espiritual de um estudante de teologia que não estuda. Mas isto não quer dizer exatamente que tudo está certo com a sua vida religiosa, se ele estuda. É possível se estudar – mesmo teologia – inteiramente com um espírito secular. Eu disse, ainda há pouco, que o que a religião faz é enviar um homem ao seu trabalho com uma devoção de maior qualidade. Ao dizer isto, eu quis expressar a palavra ‘devoção’ em seus dois sentidos - no sentido de ‘aplicação zelosa’ e no sentido de ‘exercício religioso’, as duas definições que se encontram no dicionário. Um homem religioso estudará, qualquer coisa que se torne dever seu estudar, com ‘devoção’ em ambos sentidos. Isso é o que a religião faz por ele: falo-á cumprir seus deveres, crumpri-los rigorosamente, cumprí-los ‘no Senhor’...a teologia tem como seu único fim fazer Deus conhecido: o estudante de teologia é levado em sua tarefa diária à presença de Deus, e ali é conservado.



Você pode perceber as palavras de Warfield? Ele está nos alertando sobre um grande risco que corremos – o estudar a teologia por meio dos livros com um espírito puramente secular – precisamos entender que a obra do Espírito Santo deve ser superior as nossas percepções humanas e conhecimentos que não visam glorificar a Deus, mas que visam a nos glorificar – tomemos cuidado com isso!

Ler um bom comentário com olhos de Calvino, Beza, Knox, Zwínglio, Owen é muito bom, todavia, ler as Escrituras com as lentes do Espírito Santo e espírito submisso à revelação de Deus na Bíblia é infinitamente melhor.

Devemos lembrar que não é a autoridade ou testemunho humano que validará a Palavra de Deus. Os livros nos ajudam a entender, mas não servem para autenticar a mensagem da Bíblia, pois,

A autoridade da Sagrada Escritura, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade ) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus .



Então, como o Espírito age nesta relação de Leitura e exposição da Palavra de Deus?

Primeiro, o Espírito Santo ilumina os olhos e entendimentos dos pecadores para compreenderem as verdades de Deus; os livros nos servem como moletas para compreendermos coisas que não entendemos, mas até aquilo que a melhor exegese não consegue explicar o Espírito Santo o faz.

Segundo, o Espírito Santo nos mostra a majestade e a pureza da palavra muito mais que os comentários que lemos. Apenas o Espírito pode nos convencer da autoridade da Bíblia.

Terceiro, o Espírito Santo fala através das Escrituras Sagradas. Alguns têm sustentado que há novas revelações, mas todos os que se dedicam ao Estudo da Bíblia sabem que apenas por meio dela o Espírito Santo fala-nos.

Que Deus possa nos dá grande apreensão pela literatura cristã que nos foi legada por grandes homens do passado e do presente, então, não tenha medo estude os livros que lhe chega às mãos. Amem!!!



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

AS VERDADEIRAS CARACTERÍSTICAS DA MESAGEM DO EVANGELHO

AS VERDADEIRAS CARACTERÍSTICAS DA MENSAGEM DO EVANGELHO:


UMA ABORDAGEM EXEGÉTICA DE 1ª JOÃO 1.1-4.

Rev. João Ricardo Ferreira de França*



O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida 2 (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), 3 o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa.



Introdução:



Muitas vezes lemos a 1ª epístola de João tendo a noção de que ela versa sobre o amor a Deus; todavia, tal ponderação, ainda que verdadeira, não reflete necessariamente todo o conteúdo da carta. E analisando a mesma de uma forma mais detalhada podemos dizer que há pontos nela que continuam a ser negligenciados pela Igreja.

A teologia Bíblica se insere em nosso contexto como uma resposta aos desafios que a sistematização das Escrituras parece sugerir. A revelação neotestamentária precisa ser entendida e avaliada para que haja uma apologética cristã; uma catequização sólida e por fim, haja uma aplicação prática da Palavra de Deus em nossa época e para o nosso povo. Esta é de fato a tarefa do teólogo Bíblico (como exegeta que deve ser). O presente estudo visa trabalhar questões no campo da teologia exegética visando ajudar aos leitores na compreensão da Palavra de Deus. Visando assim uma valorização pelo evangelho e a sua mensagem.

O trabalho que leitor tem em suas mãos destina-se a avaliar o ensino do apóstolo João sobre a mensagem da encarnação de Cristo e qual a sua relevância para a vida da Igreja cristã ao longo dos séculos.

A motivação para lidar com texto de 1 João 1.1-4 surgiu quando trabalhando com exposição bíblica seqüenciada observamos que havia duas posições que se inseriam na interpretação do texto citado, uns diziam que a temática destes versículos vinculava-se a pessoa de Cristo e não a mensagem sobre a sua encarnação; outros sugeriam que tratava-se apenas da mensagem do evangelho de Cristo. Então, dentro de nossas limitações, optamos em trabalhar este texto – curiosamente percebemos que o texto trabalha as implicações da verdadeira mensagem do evangelho que se fundamenta na encarnação de Cristo.

As implicações extraídas exegeticamente deste texto vislumbram uma visão global da vida cristã, pois, a universalidade da epístola sugere isso. O evangelho e sua mensagem fundamentam-se no testemunho ocular dos apóstolos; na certeza da encarnação visando promover a comunhão entre a Igreja, os apóstolos e o Deus Trino.

ELUCIDAÇÃO:

A) Autoria:

Quem é o autor desta tão singular carta? Esta tem sido a pergunta que muitos têm levantado concernente a presente epístola. Há muita discussão sobre este assunto. Onde buscar informações confiáveis para se estabelecer à autoria desta carta? O teólogo John R.W.Stott nos diz que “o lugar natural onde buscar informações sobre alguma epístola antiga, é a própria epístola”. Este tem sido o pensamento dos teólogos conservadores no que diz respeito à análise de algum documento neotestamentário.

1. Evidências Externas:

A primeira classe de evidências que podemos apresentar é a classe das evidências externas, ou seja, provas fora da própria epístola. No que diz respeito à autoria um escritor nos informa que “Policarpo, discípulo de João cita 1 Jo 4.3, em sua Carta aos Filipenses” E ainda Eusébio diz, na sua História Eclesiástica ,que Papias, Ouvinte de João e Amigo de Policarpo,citava esta carta como sendo da lavra de João,o apóstolo. Irineu cita esta carta com abundância em sua obra Contra as Heresias . “Orígenes é um dos primeiros a advogar a autoria desta epístola como sendo da pena do apóstolo João. Clemente de Alexandria diz que esta é maior das cartas de João”.

2. Evidências Internas:

A segunda classe de evidências é aquela que chamamos de interna, ou seja, dentro da carta procuramos indícios de quem tenha de fato sido o autor da referida epístola. A maioria dos comentaristas sustenta que há uma certa e profunda relação desta epístola com a obra literária de João, o Apóstolo, talvez o quadro abaixo nos ajude a entender isso:

Evangelho I João II João III João

2.24 4.1-3 7 1

8.31 3.18 1 1

10.18 4.21 4 3

13.34 2.7 5

14.21 5.3 6

15.11;16.24 1.4 12,13 13,14

21.24 12



B) Local e Origem da Carta:

A questão que se levanta diante de nós é onde esta carta foi escrita? O teólogo Merril C.Tenney diz que “são indeterminados o tempo exato e o local onde foram compostas estas cartas, mas a opinião mais aceitável é que estes documentos forma escritos por João para envio às igrejas asiáticas..”. Um outro erudito nos fornece a seguinte informação: “Tradicionalmente, todas as três epístolas ‘joaninas’, bem como o evangelho de João, têm estado associados a Asia Menor, particularmente à cidade de Éfeso”

Alguma evidencia apontam para isso:

1) Policarpo nos informa que João tinha uma residência em Éfeso.

2) Irineu informa que João não desejava ficar sobre o mesmo teto com Cirinto, que era adversário da verdade, e por isso, foi morar em Éfeso e ali, segundo Irineu, João escreveu o seu evangelho para combater os hereges.



C) Destinatários:

Para quem João escreve esta epístola? Esta tem sido a grande pergunta dos circulos acadêmicos. Um grupo de euriditos afirma que a “primeira epístola não menciona nenhum destinatário e não preserva nenhuma saudação, nem agradecimento formal ou outros detalhes formais que normalmente caracterizariam uma carta do século I” Parece-nos que não há nada em toda a carta que nos direcione a uma posição dogmática quanto ao destino da carta.

Um erudito diz que “todas as três epístolas de João parecem ter sido endereçadas às comunidades cristãs da Ásia Menor,vários membros das quais eram conhecidas pelo autor sagrado”. Isso é importante para termos em mente que João tinha um coração tremendamente pastoral para com aquelas comunidades que ali estavam lutando pela verdade de Deus. “A tradição universal é que foram (as cartas) enviadas à uma província romana da Ásia, território modernamente conhecido como a Turquia”.

Carson nos apresenta uma verdade bastante singular sobre a questão do destinatário desta epístola dizendo que “a destinação geográfica não pode ser mais do que uma interferência apartir daquilo que é reconstruído do local de origem dos documentos.Por esse motivo essas epístolas foram enviadas a igrejas (e a um individuo) localizadas na região de Éfeso, inclluindo talvez, o território abrangido pelas sete igrejas do Apocalipse (2-3)”.

Os eruditos do Novo Testamento debatem entre si sobre a questão da data deste escrito. Que data João Escreveu esta carta? É uma indagação pertinente para o entendemos em que período o autor desta carta estava inserido.

Carson admite que “é impossível ter certeza a esse respeito” e por quê? Ele diz que a questão está no fato que “a decisão depende, em última instância, do entendimento que se tem dos propósitos respectivos do quarto evangelho”, e assim, teremos os propósitos das epístolas estabelecidos, sendo assim, a questão da data depende de como entendemos a mensagem do quarto do evangelho. E a grande dúvida reside em quem foi escrito primeiro, se foi o evangelho ou as epístolas? Adotamos a postura de que as epístolas foram escritas posteriormente ao quarto evangelho.

Alguns dizem que esta epístola poderia ter sido escrita no período de 85 a 90 d.C esta tem sido a data mais aceita dentro dos círculos acadêmicos conservadores. Esta parece ser uma data salutar para a carta em apreço. Embora exista algum erudito como Robinson que afirma não existir “uma necessidade absoluta de se datar os escritos joaninos para depois de 70 d.C.” A heresia do gnosticismo que estava rondando a igreja cristã do primeiro século força-nos a rejeitar a data de 90 , ficando, assim, com a data antes de 70 d.C



D) Propósito da Carta:

Qual é o propósito desta carta? Broadus diz que é “claramente, advertir os leitores acerca do perigo, para a fé cristã, das atividades e ensinos de homens heréticos...Contra três aspectos da heresia, João enfatiza muito fortemente a três marcas do cristianismo autêntico”. Estas três marcas são as seguintes:

a) Jesus é verdadeiramente Deus vindo em Carne.

b) Obediência aos mandamentos de Deus através de Jesus Cristo.

c) Uma atitude de amor a Deus e ao próximo.

Então, João usa estas três marcas para descrever o verdadeiro cristianismo para a igreja de Cristo. Ele escreve com a finalidade de refutar uma heresia muito específica naquela época.

Mas, qual o tipo de heresia contra a qual João escreve? Esta pergunta é pertinente para o nosso entendimento geral desta carta. A heresia é conhecida como o “Gnosticismo”. Mas qual é o tipo de Gnosticismo? Na época havia dois grupos de gnósticos, e estes dois grupos são:

1) O Docético – O termo aqui deriva de um verbo chamado dokeô que tem o sentido de aparecer, ensinava que Jesus não foi uma pessoa humana de verdade. O Docetismo indagava: Como um ser espiritual, ‘Cristo’ ou o ‘Filho de Deus’ , que por definição é bom,pode tornar-se carne, que por definição é má”?. O grande dilema aqui era que embora um ser espiritual, segundo os docetas, pudesse assumir a forma de carne temporariamente, jamais poderia tornar-se carne. E, assim a doutrina da encarnação era impossível dentro do sistema docetista e gnóstico.

2) O Cerintiano – O termo deriva de um certo homem chamado Cerinto de Alexandria que foi morar em Éfeso, foi contemporâneo de João e Policarpo. Irineu de Leão nos informa que este ensinava um gnosticismo chamado adocionista. O seu ensino consistia em que Jesus era o filho natural de José e Maria. Jesus não nasceu como o messias, mas se tornou tal quando foi batizado no Rio Jordão, no momento em que a pomba desceu sobre ele. Na Crucificação de Jesus o Cristo o deixou sofrendo na Cruz – Deus meu, Deus meu! Por que me desamparastes? – quem sofreu na cruz não foi o Cristo mais apenas um homem.

A Carta de João parece ser uma resposta adequada a ambos os sistemas gnósticos. Isso pode ser percebido nos capítulos 4.1-3;5.5-9. “O autor escreve para mostrar como alguém pode saber se está na verdade: A verdadeira teologia é que Jesus é o Filho de Deus(3.23;5.5,10,13) que Cristo veio verdadeiramente em Carne (4.2)”.

A carta parece está sendo escrita para combater uma espécie, ainda que incipiente, de gnosticismo. E assim fortalecer a igreja na verdade a respeito da encarnação de Cristo que tem sido a doutrina fundamental, a linha divisória entre o evangelho gerado por homens e o verdadeiro evangelho anunciado por Deus.



EXPOSIÇÃO:

O que nos chama atenção é fato que esta carta não tem um prefácio como as demais cartas do Novo Testamento. E isso nos faz questionar: no que se concentram tais versículos? Alguém já disse que este prefácio “está interessado essencialmente na proclamação apostólica do Evangelho”. Isso decorre do fato de que apenas o Evangelho poderia responder satisfatoriamente a questão das heresias gnósticas.

A ETERNINDADE DO VERBO COMO PRÓLOGO À ENCARNAÇÃO



A carta começa com uma nota altamente teológica “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da Vida”. O que este versículo tem a nos ensinar? Bem, consideremos algumas verdades:

A primeira verdade a ser considerada é a expressão “O que era desde o princípio...” No grego nós temos “ho en ap arches” o uso do verbo “en” aponta para o estado que não foi alterado, e o uso do substantivo “arches” indica algo intemporal. Pode significar começo, principio, início. A ênfase aqui pode ser uma referência à pré-existência de Cristo e ao caráter absoluto de sua divindade. Todavia, é bem mais provável que o autor esteja se referido a mensagem do evangelho que se concentra no conteúdo central – Cristo Jesus o redentor da humanidade.

A expressão “o que era” no grego pode ser traduzido por “aquilo” o termo é “mais amplo do quem,pois, inclui a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo”.

Mas, o grande dilema entre os exegetas está no uso da expressão “Com respeito ao Verbo da Vida” que no grego é “peri tou lógou tês zoês” . A questão pode ser colocada da seguinte forma: Será que o termo “ tou lógou” é uma referência a Cristo ou a mensagem do Evangelho? E o termo “peri” está ou não qualificando os termos anteriormente estabelecidos (olhos, ouvidos, mãos)? O debate gira em torno destes termos.

Concernente que na primeira questão nós defendemos que o termo “tou lógou” é uma referência ao evangelho de Cristo que no tempo teve a sua manifestação histórica na Pessoa do Redentor, e isto , por meio, da encarnação. Isso é possivelmente defensível pelo fato de que o termo “lógos” é uma evolução lingüística do radical “leg” de onde vem o verbo “legô” e significa “dizer”, mas não é um jogar de palavras “ tem o sentido de coletar as melhores palavras para ser proferidas” o termo “lógos” deriva desta construção gramatical, e indica que Cristo tem sido o melhor discurso de Deus ao homem.

Este texto que temos diante de nós nos apresenta as verdadeiras características da mensagem do evangelho de Cristo. João sumariza tudo isso de forma muito clara nesta pericope. E de que forma podemos perceber isso?



I – A MENSAGEM DO EVANGELHO FUNDAMENTA-SE NO TESTEMUNHO OCULAR DOS APÓSTOLOS.



A primeira questão é que a mensagem do evangelho está fundamentada no testemunho ocular dos primeiros apóstolos. Isso é percebido pelo uso que João faz de alguns verbos nesta passagem. Ele diz “O que temos ouvido” isto é uma referência a proclamação do evangelho trazida por Cristo. O verbo que é usado aqui é “akekoamen” está no perfeito, e este tempo verbal descreve a idéia de uma ação progressiva. Ou como coloca Swetnan: No modo indicativo, o tempo perfeito é normalmente combinado com outros elementos no contexto, incluindo o significado do próprio verbo , para indicar a continuidade, resultado presente de uma ação anterior.

Esta é uma definição bastante clara do tempo perfeito no grego, todavia, tal simplicidade não deve ser usada para se ignorar este tempo, pois, Moulton indica que “o tempo perfeito é o mais importante exegeticamente entre todos os tempos gregos”. Isso é percebido nas construções gramaticas neste tempo usadas nesta epístola. É usado de forma deliberada por um autor, isto implica na singularidade deste tempo verbal.

O outro vocábulo grego que temos usado aqui é “heorakamen” – “o que temos visto” é um verbo que está no perfeito do indicativo da voz ativa, e o aspecto verbal usado aqui indica que foi feita uma revelação em termos que os homens podiam compreender e os resultados desta revelação tem efeito permanente na vida. O uso do plural aqui indica o autor desta epístola e os demais apóstolos. O uso do tempo perfeito aponta, também, para a possessão da mensagem a ser proferida.

Mas, eles não apenas viram; pois, o texto nos informa que eles “contemplaram” no grego a palavra é “etheasámetha” aqui o verbo é um “aoristo” do indicativo médio.Isso quer dizer que foi algo que aconteceu no passado, e, aponta para os dias que ele esteve com Cristo – que é o verbo da vida - ele não apenas viu a manifestação histórica do Verbo neste mundo, mas ele fixou sua atenção a tudo que o Logos de Deus fez e ensinou neste mundo. O verbo aqui indica que havia uma consideração deveras solene e profunda para com a Pessoa de Cristo como o verbo de Deus. Este olhar distingue-se dos demais: é uma contemplação intencional.

Mas, as evidências não estavam apenas no campo da contemplação visual, mas também, encontrava-se no campo vivencial e empirista. Ele diz que as suas “mãos apalparam o verbo da vida”. As evidências vão tomando formas singulares. O empirismo teológico do apóstolo fundametam sua mensagem e autoridade. O verbo da vida pode ser tocado e sentido – indicando que não era um fantasma - isso era uma credencial apostólica ser uma testemunha ocular de tudo o que Cristo realizou. Mas será que tal argumento fundamenta-se? Há certa autoridade para isso, é quando o lado de Jesus é ferido depois de sua morte (João 19.35): “aquele que isto viu, testificou” ( Este é um testemunho ocular).

O verbo grego usado para “apalpar” é “epsêláphêsan” é um verbo que está no aoristo do indicativo – de fato nós apalpamos – na voz passiva. Este termo tem o sentido de um cego no escuro procurando por luz e a encontrou, pois,o aoristo pode oferecer o sentido de finalização desta procura. Todavia, o sentido aqui é de examinar de perto como sendo uma evidência cabal de que o Eterno penetrou na história dos homens.

Esta experiência apostólica o qualifica como testemunha do evangelho.Como “ministro das insondáveis riquezas de Cristo” não era um diploma do colégio apostólico que o qualificava como proclamador do evangelho, mas a experiência com o Logos encarnado. Os pregadores itinerantes que não tinham essa visão do lógos não eram nem sequer autorizados como autênticos pregadores do evangelho que gera vida; e nem muito menos eram apóstolos que foram chamados para anunciar o verbo da Vida.

O próprio João “reclinava-se sobre o peito de Cristo” , e isso, o autoriza dizer que suas mãos apalparam o verbo da vida. A verdade do apostolado de João estava fincada em fortes bases – pois, a sua convivência com o Lógos silenciava toda e qualquer heresia gnóstica. Outra realidade é que esta evidência qualificava alguém para exercer o apostolado, a certeza de que alguém. Isso pode ser visto em textos como Atos 2.21-26; e, também, em 2 Coríntios 12.11-13. Uma vez que nenhum moderno apóstolo hoje tem essas credencias podem ser chamados de falsos apóstolos, isso no sentido estrito da Palavra.



II – A VERDADEIRA MENSAGEM DO EVANGELHO TESTIFICA DA ENCARNAÇÃO DO VERBO.



A segunda característica que João nos apresenta no seu texto sobre , a verdaeira mensagem do evangelho é que ela “Anuncia e testifica da Encarnação do Verbo”.O apóstolo não para em afirmar o seu testemunho ocular dos fatos, mas nos indica que este vivenciar com cristo tem um objetivo de proclamar os eventos históricos da encarnação. Ele diz que a “Palavra da vida se manifestou”! A palavra não ficou na eternidade ela tomou uma forma – o discurso de Deus se humanizou! Deus verbalizou sua verdade na encarnação de Cristo. Isso é notório pelo uso do verbo “efanerothê” que é um indicativo aoristo na voz passiva que indica tornar claro, tornar evidente, manifestar. O discurso de Deus no A.T era por meio tipos e símbolos, mas no N.T é por meio da encarnação do seu Filho, pois, o verbo grego “indica a encarnação” .

A manifestação de Cristo no V.T , por meio dos tipos e símbolos, era imperfeita, todavia suficiente aos crentes daquele tempo, todavia, na encarnação de Cristo Deus tabernáculou entre nós (Jo.1.14) de forma perfeita e plena, Deus se revela redentor,por meio do “Verbo da vida” no grego“logou tês zoês” aqui o gentivo pode ser tomado de três formas básicas: 1) pode indicar o conteúdo da Palavra – a Vida que é Cristo, é uma proclamação de sua obra e de sua pessoa; 2) pode indicar a qualidade – palavra viva; 3) ou pode indicar o objeto – o verbo que dá vida.

João testifica do Verbo encarnado quando ele diz “testemunhamos”. O verbo grego aqui “martyroumen”, segundo Stott, é usado para indicar a “autoridade da experiência apostólica” está no tempo presente, exigindo assim uma ação contínua, significa que o testemunho ocular de João não deveria ser monopolizado por ele e pelos demais apóstolos, mas que deveria ser anunciado constantemente. Esse testemunho dá força para uma anunciação singular, o apóstolo, usa o verbo “apangellomen” este verbo é usado no grego para descrever a idéia de reportar, declarar. Aqui o sentido é de indicar “a fonte da qual procede a mensagem” as duas palavras “martyroumen e apangellomen” enfatizam que a mensagem tem fundamento no testemunho ocular de João. Ele como testemunha ocular dos fatos ocorridos é autorizado a testificar da encarnação de Cristo. Aquele verbo que fora tocado pelo apóstolo era o fundamento de sua proclamação.

O versículo 2 é uma espécie de parênteses no qual o autor nos indica que a vida foi revelada por Deus na pessoa de Cristo. A proclamação da encarnação de Cristo não gera um mero intelectualismo, pois, a função desta proclamação é apresentar “a vida eterna” que estava com “Deus Pai” (ten zoen ten aionion hetis en pros ton patera), isso é bastante singular. A vida eterna que possuirmos só encontra realidade em nós por causa da encarnação de Cristo. Ele é a Vida Eterna que estava com o Pai e foi manifestada a nós pecadores.



III – A VERDADEIRA MENSAGEM DO EVANGELHO TEM DOIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS: PROMOVER COMUNHÃO E ALEGRIA.



A terceira característica da mensagem do evangelho é que ela apresenta o duplo propósito da doutrina da encarnação: “Promover comunhão e alegria plena”.

As igrejas estavam vivendo em profunda desarmonia por causa das heresias que estavam presentes naquele tempo, e os pregadores intinerantes se advogavam como apóstolos, mas aqui João nos diz que o autentico apóstolo proclama a encarnação para “que mantenhais comunhão conosco...”

No grego a palavra “comunhão” é “koinonian” indica “o afastamento dos interesses particulares e a união com outras pessoas para o cumprimento de alvos comuns” .Como podemos saber que isso é expressamente o objetivo da proclamação de João? Podemos perceber pelo uso que ele faz do subjuntivo do verbo “echête”, o modo subjuntivo em grego tem o objetivo de indicar finalidade, e está no tempo presente, aqui João está dizendo que não é apenas para se “ter” comunhão, mas para continuar tendo – sempre tendo comunhão – talvez o uso do tempo presente esclareça adequadamente o fato de João incluir nesta comunhão a Pessoa de Deus Pai e de Deus Filho. “Ora a nossa Comunhão é com o Pai e com seu Filho”.

Isso nos lembra que a comunhão não é apenas horizontal, mas antes é vertical. A verdadeira doutrina da encarnação nos leva a ter não só comunhão uns com os outros, mas também com as três pessoas da Trindade. João não menciona o Espírito Santo aqui, isso porque (como é lógico), somente o Espírito Santo é capaz de promover essa comunhão, e sabemos que este Espírito Santo habita em nós e nos capacita a essa comunhão.

Aqui também é-nos indicado que a comunhão “com o Pai e com seu Filho” aponta para a nossa Salvação que encontramos em Cristo por meio da ação soberana do Espírito Santo, somos membros de Cristo e temos comunhão com Deus.

O segundo propósito da proclamação ou mesmo do registro da encarnação “Estas coisas, pois, vos escrevemos...” tem a finalidade de produzir algo deveras importante “alegria completa”.

Qual é a idéia aqui? A idéia é de plena satisfação. João, ao usar o verbo grego “peplêromenê”, está nos dizendo que e encarnação produz plena satisfação à igreja continuamente, pois, o tempo presente do verbo nos indica isso.

Wallace nos diz que há certa dificuldade com a expressão “nossa alegria”, aqui o “nós” é inclusivo ou exclusivo? Coloquemos a questão conforme formulou Wallace:

O propósito da carta é: que o autor tenha alegria ou que o autor e os ouvintes experimentam alegria? Um complicador da questão é o testemunho dos MS (manuscritos): algumas testemunhas têm “hemôn” (e.g., a B L Y 1241) enquanto que outros têm “hymôn” (e.g., A C K P 33 1739). A questão é muito difícil para fecharmo-la. Contudo, pelo menos, o pronome na segunda pessoa sugere implicitamente que os escribas viram os ouvintes como participantes do propósito alegre da epístola.



A resposta a esse dilema é que o apóstolo usa o pronome de forma inclusiva - e ele e os demais apóstolos tinham como objetivo, através da proclamação do evangelho, promover uma plena alegria na vida da Igreja.

A ênfase de João está no fato de que a encarnação completa a nossa alegria. Mas também garante a suficiência da mensagem cristã. Nada lhe falta. A mensagem cristã tem tudo. O verbo está no particípio perfeito indicando que uma ação foi realizada no passado, mas que os seus resultados são duradouros. Tudo está completado, a igreja não precisa de experiências místicas, não carece do conhecimento avançado do gnosticismo ou da ilusão dos docetas para continuar existindo, essas coisas não comunicam a autêntica alegria. Mas a alegria da igreja está fundamentada na mensagem da encarnação do Verbo que comunica vida aos homens. Esse era o desejo latente do coração do apóstolo João. Ao usar o subjuntivo associado a um verbo num particípio perfeito indica que há um desejo para que aquela alegria primeva continue abundantemente na vida dos que conhecem a mensagem do verbo da vida.

CONCLUSÃO:

Diante do que vimos podemos dizer que o apóstolo João ao escrever esta carta tinha como objetivo. Edificar os crentes na verdadeira fé a respeito da encarnação. E o caminho que ele faz isso é mostrando que características cabia para a verdadeira mensagem do evangelho. Aprendemos com o apóstolo que o ministério de pregação da verdade não pode estar baseado em sintomáticas emergenciais, mas deve estar alicerçado sobre o mais sólido fundamento; o testemunho singular da encarnação de Cristo. Onde é possível perceber e contemplar o eterno em termos tangíveis. Aqui entendemos que muito mais que anunciar a Cristo é preciso crer nele como o Deus vindo ao mundo que se tornou servo para redimir pecadores; algumas coisas são pertinentes aqui, a primeira consiste em rejeitar aquela idéia de que a doutrina divide a igreja; a verdade demonstrada por João é contrária a tal pensamento – a doutrina (a verdadeira doutrina) promove comunhão dentro da igreja de Cristo. Esta conclusão é inevitável quando lemos este trecho das Escrituras Sagradas.

A outra verdade que aprendemos é que a mesma doutrina deve gerar alegria aos crentes, a verdade deve fazer brotar no peito a semente da alegria cristã. Uma alegria completa que não precise de algo mais, não precise de misticismo ou emocionalismo barato, pois, na encarnação temos o que é necessário para a vida cristã e para uma vida pura em Deus – temos Deus dando-se a si mesmo aos pecadores. Temos o eterno no tempo; o humano no divino; o Criador vivendo com as sua criação. E, estas verdades conferem a suficiência plausível à mensagem cristã. Aqui temos a razão da existência do nosso ministério, e o resumo de toda a nossa pregação - Cristo é Deus Encarnado!

Esta não é uma verdade sem conteúdo. Também não é um ensino para o alimento intelectual de alguns crentes, mas é um ensino para promover a comunhão dentro da igreja de Cristo, é um ensino para trazer alegria ao coração do aflito, que ao saber que um Deus nos céus se importa com ele o seu coração se enche de alegria singular; e mergulha em uma gratidão solene ao Cristo da Cruz por tão sublime amor. A outra verdade aprendida aqui é que é possível ao pastor ter esperança no futuro, pois, a sua mensagem é divina – e nunca humana – isto porque se o ministério pastoral centralizar-se em ensinar apenas Cristo aos pecadores, ele (o pastor) nunca falhará ou fracassará em sua mensagem. Isto nos confere conforto ao coração, pois, temos uma mensagem que foi idealizada por Deus na eternidade e tudo que temos que fazer é transmiti-la com reverência e temor.



































REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.



1. ARENS,Eduardo. A Bíblia sem Mitos – Uma introdução Crítica. São Paulo: Paulus, 2007,

2. CAMPEDELLI, Samira Yousseff. & SOUZA, Jésus Barbosa. Literatura Produção de Textos e Gramática, São Paulo: Editora Saraiva, 1998.

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6. CHAMBERLAIN, Willian Douglas. Gramática Exegética do Grego Neo-testamentário. São Paulo: CEP, 1989.

7. CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo, São Paulo: Candeia, 1986.

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10. IRINEU DE LIÃO. I, II, III, IV, V livros (Contra Heresias) in: COLEÇÃOPATRÍSTICA: Irineu de Lião. São Paulo: Paulus, 1995.

11. JAMIERSON, Roberto. , FAUSSET.A.R.& BROWN,David. Cometario Exegetico y Explicativo de la Biblia, Casa Bautista de Publicaciones, Venezuela, Ano de Edição 1977.

12. KAISER JR., Walter & SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2002

13. KISTEMAKER, Simon.Comentário do Novo Testamento – Tiago e Epístolas de João. São Paulo: Ed. Cultura Cristã,2006.

14. METZGER, Bruce M. A Textual Commentary On The Greek New Testament, Alemanha: UBS, 1994.

15. OSBORNE, Grant. O.A Espiral Hermenêutica – Uma nova abordagem à Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009.

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19. WALLACE, Daniel B. Gramática Grega – Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. São Paulo: IBR, 2009, p.573.

sábado, 29 de maio de 2010

ENTENDENDO A CONFISSÃO DE WESTMINSTER - DISCIPULADO 1

ESTUDOS NA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.


DEPARTAMENTO: Escola Bíblica Dominical.

Aluno:___________________________________________________________________

Professor: João Ricardo Ferreira de França(3475-7544 ou jrcalvino9@yahoo.com.br e jrcalvino9@hotmail.com ).

ASSUNTO: Capítulo 2 – de Deus e da Trindade .

SEÇÃO ESTUDADA: Primeira.

INTRODUÇÃO: O nosso estudo tem como objetivo estudar o ser de Deus conforme Ele se revela nas Escrituras. Deus não é provado pelas Escrituras, pois, a Bíblia só pensa em nos dá de imediato a existência de Deus. “No princípio Deus...” esta é uma verdade clara em tudo. Este capítulo de nossa Confissão de Fé trata da Teontologia (Estudo do ser de Deus), e pode ser reconhecido como o capítulo confessional que trata especificamente da teologia do ser de Deus. Nesta aula vamos estudar dois grande e fundamentais conceitos a respeito do assunto: Os atributos incomunicáveis e comunicáveis de Deus.



I – ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS DE DEUS.

Definição: Podemos dizer que são os atributos que Deus não comunica ao homem, pois, estes atributos encontram-se somente em Deus.

Diante disso desejamos apresentar aos irmãos alguns destes atributos conforme têm sido apresentados na Confissão de Fé de Westminster.

A unidade de Deus: Antes de considerarmos apropriadamente este assunto, se faz necessário considerar a unidade Deus. Nós presbiterianos acreditamos que há um só Deus, e este é “Vivo e Verdadeiro”.

O texto de Deuteronômio 6.4 nos mostra essa realidade. O termo “único” ocorre no texto para apontar uma “Unidade” não Absoluta, mas para uma “Unidade composta”, ou seja, Deus é um, mas nele há uma certa pluralidade que o judeu não podia explicar. Este é o indicio da doutrina da Trindade que consideraremos depois.

1. Deus é Infinito em Perfeição: Deus tem sido caracterizado na Bíblia como um ser infinito. Em profunda perfeição a infinitude de Deus descreve que ele não tem fim, sempre continuará existindo, isto descreve que ele é isento de qualquer limitação, descreve que ele está ausente de qualquer erro em seu ser, e assim, descreve sua perfeição. Veja-se Jó 11.7-10; Salmos 145.3; Mt.5.48.

2. Deus é Imutável: Outro atributo de Deus que é incomunicável ao homem é chamado de imutabilidade, a imutabilidade de Deus significa que Ele é sempre o mesmo em Seu ser, Ele não muda em sua natureza ontológica. O texto de Tiago.1.17 nos informa isso. Três coisas podem ser analisadas aqui:

A) Tudo o que é bom vem de Deus.

B) Que de Deus as trevas não vem.

C) Que Deus não pode mudar.

3. Deus é Eterno: A sua eternidade não pode ser enumerada, somente ele é o ETERNO POR MAGNIFICIENCIA. A eternidade de nossa alma está ligada à criação de Deus.O SENHOR criou o homem para ser eterno, mas a eternidade de Deus é dEle somente.

4.Onipotência: Creio “em Deus Pai, Todo-Poderoso” esta é a confissão da igreja. O atributo de onipotência cabe somente em Deus que criou o mundo e tudo o que nele existe, ter todo poder significa que Deus pode fazer tudo o que lhe apraz para glorificar o seu próprio nome. Jó 37.23.

5. Onisciente: Deus conhece todas as coisas em sua totalidade, esse conhecimento não é adquirido, mas é inato em seu ser, Deus não aprende as coisas como acontece conosco, mas ele sabe tudo – alguns chamam isso de conhecimento exaustivo e simultâneo de Deus. Dentro deste atributo podemos incluir a presciência que é fruto deste conhecimento exaustivo de Deus.Romanos 11.34 e 1 Pedro 1.1-2.

6. Onipresença: O Criador está em todos os lugares e não está limitado a estes lugares. É isto que quer dizer “Onipresença”. Dentro deste atributo encontramos apoio para duas verdades teológicas que são: 1) que Deus é Imanente – está na Criação, mas não é a Criação; 2) que Deus é transcendente – que está ausente na Criação, mas não abandona a Criação e não se funde ou confunde-se com ela.(Salmos 139.7-10)

II – ATRIBUTOS COMUNICAVEIS: A definição destes é que os mesmos são atributos que encontramos em Deus e no homem, no Criador os encontramos com grande elevação e nos homens com imperfeição. Desejo mencionar apenas três destes atributos.

1.Santidade: A Bíblia descreve Deus como Santo, o homem também, quando encontrado pela Graça de Deus, é descrito como tal. Is.6.3; 1 Co.1.1-2.

2.Amor: Deus é Compreendido como sendo amor 1Jo.4.8,10

3.Justo: O Deus da Bíblia é apresentado como sendo justo. Naum 1.2,3

III – DEUS É AUTO-SUFICIENTE: Deus não se auto-criou. Ele sempre existiu. Ele não precisa das suas criaturas para continuar existindo. Por quê?

1)Porque é a origem de todas as coisas: A Bíblia declara isso de forma clara (Sl 104; Amós 4.13; Cl .1.16,17).

2) Porque somente ele deve ser merecedor de glórias e honras: Veja-se Rm.11.36; Ap.4.11.Isso deve gerar em nós humildade diante de Deus pós nós precisamos dele.At.17.22-28

questionário.

l) O que são os atributos de Deus? E quais são?

2) O Deus da Bíblia precisa de alguém? Explique.

3) Qual é a atitude que devemos assumir diante da auto-suficiência de Deus?

4)Fale sobre o que entende-se dos atributos comunicáveis de Deus?

5) A imanência e a transcendência são verdades de que Atributo de Deus?

6) O que significa Presciência em 1 Pedro 1.1-2?.